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Felipe Zmoginski

China atrai um terço dos investimentos em startups em todo o mundo

Felipe Zmoginski

11/04/2018 11h19


App de transportes Didi captou US$ 5,5 bilhões sem abrir capital

De cada três dólares investidos em startups de tecnologia em todo o mundo, um é aplicado em alguma empresa chinesa. O valor não leva em conta Taiwan ou Hong Kong, mas apenas empresas registradas na "China continental". A revelação foi feita, esta semana, pela consultoria Prequin, que compilou relatórios de investimentos de risco (venture capital) feitos em todo o mundo ao longo do ano de 2017.

De acordo com o estudo, as startups chinesas ficaram com US$ 65 bilhões de todo o bolo de US$ 182 bilhões em investimentos de risco feitos no mundo. Globalmente, o valor foi considerado muito positivo, precisamente 28% maior que o registrado em 2016. Desde que a bolha imobiliária americana sacudiu o mundo, há uma década, não se investia tanto dinheiro em startups quanto em 2017.

O valor atraído por startups baseadas na China só é menor que o contabilizado por empresas iniciantes com sede nos Estados Unidos, onde captou-se US$ 76,4 bilhões em investimentos do tipo. Nos Estados Unidos, porém, registra-se investimentos tomados por empresas de muitos países, como os da Europa e da América Latina, que abrem escritórios no Vale do Silício ou Nova York apenas para facilitar a captação de recursos.

Na análise feita pela Prequim, uma consultoria com sede em Nova York, das 10 maiores captações feitas no mundo em 2017 por empresas que ainda não abriram seu capital, quatro são chinesas, entre elas a Didi e a Meituan. A primeira é o famoso aplicativo de transporte que engoliu a operação do Uber na China e fez a aquisição da 99 no Brasil, criando o que chamamos, com alguma imprecisão, de "primeiro unicórnio" (empresa avaliada em mais de US$ 1 bi) brasileiro.  A Didi captou US$ 5,5 bilhões, sem precisar fazer IPO, nome dado à oferta inicial de ações em bolsa. Outra estrela chinesa foi a Meituan, uma espécie de shopping online de promoções, onde se encontra ingressos de cinema, passagens aéreas e vouchers para restaurantes por preços abaixo da média de mercado. A Meituan atraiu US$ 4 bilhões, dinheiro com o qual comprou competidores e firmou um quase monopólio neste segmento na China.

O fenômeno mais interessante, porém, não é formado por estas "mega" captações, mas pelo capital pulverizado entre centenas de empresas iniciantes, sobretudo nos segmentos de inteligência artificial e big data. Com um terço do capital de risco nas mãos, estas pequenas empresas chinesas têm as melhores condições competitivas para prosperar, uma vez que se posicionam na economia digital que mais cresce no mundo e onde, por motivos variados, empresas estrangeiras têm enorme dificuldade em prosperar.


Cai Wensheng: investidor-anjo que fez startups desacreditadas brilharem

Um dos ícones deste sucesso é Cai Wensheng, o investidor-anjo e criador do aplicativo de edição de imagens Meitu, software que ajuda meninos e meninas a ficarem mais bonitos por meio de filtros que realçam os olhos e deixam a pele mais uniforme.  Wensheng nunca estudou em uma universidade e iniciou sua fortuna com um prosaico comércio de domínios de internet, os endereços www.nomedaempresa.com.cn. Hoje, porém, Wensheng é uma estrela da internet chinesa e admirado não só pela coragem em investir grande parte de sua fortuna pessoal em startups de alto risco, mas pelo talento em fazer negócios improváveis prosperarem.

Com tantos números positivos e fatores favoráveis, as startups chinesas têm agora um enorme desafio, em que grandes e pequenas empresas locais de tecnologia têm falhado: tornarem-se relevantes fora da proteção do mercado doméstico. Mesmo para quem tem uma mente brilhante e bolsos recheados, como Wensheng, está não será uma tarefa fácil.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.