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Felipe Zmoginski

We Chat torna se app essencial para viver na China

Felipe Zmoginski

16/05/2018 15h28


Tempo gasto no transporte é usado para compras e agendamentos online

A gigante de tecnologia Tencent divulgou,  esta semana, seu relatório anual sobre o impacto social que o aplicativo WeChat, que possui mais de um bilhão de usuários ativos no mundo, gerou em seu mercado doméstico, a China, em 2018.  Os resultados são não apenas impressionantes, como demonstram a quase total dependência dos chineses deste aplicativo para realizar as atividades mais simples de seu dia a dia.

Das 34 províncias chinesas, 27 integraram serviços públicos ao aplicativo WeChat. Isto significa dizer que é possível usar o app para liberar as catracas do transporte público, cadastrar o pagamento de seguro social no país e até quitar impostos.

No setor privado, diz a análise, foram movimentados o equivalente a 167 bilhões de reais em transações comerciais dentro da ferramenta. Este valor não inclui, por exemplo, o dinheiro que um pai transfere para a conta digital de um filho ou quando um amigo envia para outro um "hong bao", presente em dinheiro trocado entre chineses. O montante contabiliza apenas as vendas de empresas para pessoas físicas, como restaurantes, agências de turismo e lojas de e-commerce, por exemplo.

A análise revela, ainda, que 34% do pacote de dados consumido pelos chineses é gasto dentro do WeChat. Para efeito de comparação, o Facebook é responsável pelo consumo de 14% dos dados dos pacotes de cidadãos americanos. De acordo com o relatório, as pessoas com mais idade (com 60 anos ou mais) são mais dependentes do WeChat: elas gastam 50% de seu plano de dados no app, índice 24 pontos percentuais acima da média geral.

Como se sabe, o WeChat não é apenas um mensageiro (como o WhatsApp) mas integra também feed de atualizações que lhe confere características sociais (WeChat é, sem exagero, o Facebook dos chineses), funções de videoconferência e muitos serviços de terceiros, chamados de "mini apps", que integram aplicações para chamar táxis, agendar horário em salões de beleza, fazer compras online ou pedir delivery de comida, por exemplo.

O estudo indica que existem, hoje, 20 milhões de chineses que trabalham exclusivamente para a plataforma, são os social media e os "influenciadores" locais, que trabalham para alimentar o feed de marcas privadas dentro da rede ou como os "bloggers e vloggers" brasileiros, que criam conteúdo para plataformas sociais como Instagram e Facebook. Na China, porém, este mercado está quase todo concentrado no WeChat.  Um milhão  de programadores, por exemplo, vivem exclusivamente de criar mini apps para empresas que desejam inserir seus produtos nesta poderosa plataforma, uma espécie de "internet" dentro da "internet" chinesa.

A ferramenta também aparece entre as mais populares entre os chineses para atividades como procurar uma namorada (o) ou encontrar um emprego. Mais do que isso, é um app essencial para agendar consultas e exames médicos em clínicas públicas e privadas. O relatório afirma que, quem usa WeChat para agendar uma consulta, por exemplo, fica 43 minutos menos tempo nas salas de espera, em função dos ganhos de tecnologia, que reduzem o absenteísmo (ausência do paciente) e facilitam a conexão entre profissionais de saúde e quem faz tratamentos.


Loja em Bangkok, na Tailândia, recebe pagamentos por WeChat

O poder do WeChat entre os chineses está forçando, inclusive,  lojas, hotéis e restaurantes fora da China a aceitar o método de pagamento WePay, em particular na Tailândia e no Japão, destinos de turismo e negócio preferenciais dos chineses.  De acordo com o relatório, ao longo de 2017, o número de estabelecimentos japoneses que aceitam transações por WePay cresceu 36 vezes. Atualmente, na Indonésia, Vietnã e até em lojas de departamento parisienses é possível pagar as compras com WePay.

Os dados indicam que, se o WeChat chegou a seu ponto de saturação na China em termos de número de usuários, é ainda uma avenida aberta para gerar mais faturamento à Tencent, uma vez que milhares de novos serviços do mundo offline, como salões de beleza, hotéis, lojas de sapatos e restaurantes, estão entrando na plataforma, inclusive fora das fronteiras chinesas.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.