Vender sem lucro rende bilhões de dólares a startups chinesas
Ciclista usa bicicleta da Mobike em Xangai: aluguel sem garantias
Publicado há dez anos, o livro "Free", do jornalista americano Chris Anderson, previa um mundo em que (quase) todos os produtos teriam uma versão para ser oferecida gratuitamente ao mercado. O modelo de negócios do futuro, dizia Anderson, seria o "freemium", em que se entrega um produto de graça, mas gera-se receita com a venda de recursos "premium" ou avançados. É mais ou menos como funciona o Tinder ou o LinkedIN, em que você cria sua conta gratuitamente, mas paga um trocado se quiser saber, por exemplo, quem viu seu perfil ou se quiser mandar e-mails a contatos da rede.
Curiosamente, o mercado onde este modelo chegou a seu nível mais avançado não são os Estados Unidos de Anderson, mas a China. Neste blog já comentamos, por exemplo, que a fabricante de smartphones Xiaomi (a quarta maior do mundo em número de telefones vendidos) comercializa suas joias high end com margem de lucro de ridículos 2%. Ganha-se na venda de apps pré-instalados ou por meio de sua loja de aplicativos, Mi Store.
Pilha de biciletas destruídas, em ferro velho de Beijing: ganhos superam as perdas
Quem já viajou à China sabe que bares, shoppings e restaurantes oferecem Wi-Fi gratuito a seus consumidores sem pagarem nada às telecoms por isso. Pelo contrário. Empresas de publicidade lutam entre si para montar redes nos pontos mais caros de Beijing e Xangai. Em troca, exigem que os usuários que se logam em suas redes assistam a vídeos publicitários ou instalem apps de parceiros, que os remuneram por isso. O Wi-Fi em troca da instalação de apps é uma forma engenhosa de fazer startups digitais ganharem rapidamente grande base de usuários e validarem (ou não) seu modelo de negócios.
Esta semana, a empresa de compartilhamento de bicicletas Mobike anunciou que permitirá que usuários em 100 cidades chinesas usem suas bicicletas sem pagar um único yuan de depósito. Originalmente, este modelo que espalhou centenas de milhões de bicicletas pelas cidades chinesas funcionava assim: o usuário depositava uma garantia equivalente a 150 reais no app da empresa e podia pegar qualquer bicicleta da marca estacionada pela cidade. O depósito era suficiente para cobrir os riscos do usuário furtar ou danificar o bem.
Em 2017, o compartilhamento de bicicletas foi o tema mais quente entre as startups chinesas. Mais de 20 empresas chegaram a oferecer este serviço pelo país e captaram, juntas, mais de US$ 2 bilhões para inundar o país de bicicletas, segundo cálculos do site Investopedia.
Agora, porém, a Mobike, que ao lado da rival Ofo, concentra 95% do mercado de compartilhamento de bicicletas no país, anunciou que abre mão do depósito. O preço para pedalar é ridiculamente baixo: cinquenta centavos de real por hora.
Como a demografia chinesa é gigantesca e concentrada, o alto giro de aluguel de bicicletas deve compensar seus custos, que não são nada baixos já que centenas de milhões de bicicletas vão para o lixo a cada trimestre, destruídas por mau uso. Se mantiver-se lucrativa com o aluguel de bikes sem depósito, a Mobike fará jus ao clichê "negócio da China": preço irrisório para os usuários, lucro em alta para a companhia.
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