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Felipe Zmoginski

Marcas domésticas esmagam a Samsung na China

Felipe Zmoginski

14/08/2018 04h00


De líder a nanica: Samsung perdeu espaço na China para Xiaomi e Huawei

Causou espanto a muitos brasileiros a notícia de que a Huawei ultrapassou a Apple em participação de mercado no mundo há algumas semanas. Afinal, enquanto vemos iPhones por todo lado, praticamente não conhecemos um único indivíduo que ostente um P20 ou i9, nomes dos smartphones mais populares da companhia chinesa. Da mesma forma, deve causar surpresa a notícia de que a líder mundial em celulares, a Samsung, detém hoje apenas 1% de market share na China.

Há cinco anos, a fabricante sul-coreana era líder também no exponencial mercado chinês, onde detinha market share de 20%, número que mingou dramaticamente nos últimos, levando a companhia coreana a trocar seus executivos no país e substituir marqueteiros, como fazem os clubes de futebol do Brasil quando começam a perder jogos em sequencia. A estratégia deu resultado nenhum.

Oficialmente, porta-vozes da Samsung preferem destacar que a empresa tem tido bom desempenho no segmento premium, onde estão o S9, S9 Plus e a linha Note.  Na prática, porém, o cenário é desolador, com perda quase total de mercado na maior economia do mundo para o segmento.

Os motivos do fracasso coreano na China são vários. O escândalo envolvendo o Note 7, que explodia e os atritos políticos entre os dois países em função de um escudo de mísseis a ser implantado na Coréia, o que gerou um sentimento "anti-coreano" entre os chineses, contribuíram, mas não explicam a derrocada da Samsung.

Peso maior tem a baixa customização da Samsung para o mercado chinês, como por exemplo os filtros de "embelezamento" e "embranquecimento" da pele do rosto, nativos na função selfie de câmeras de marcas locais e arrogantemente ignorados pela Samsung em seus modelos vendidos na China.

Relatório da Counterpoint retrata derrocada da coreana na China

O fator que melhor explica o declínio da Samsung no país, porém, não são as falhas da empresa coreana, mas os acertos das marcas chinesas.  Xiaomi, Oppo, Vivo e Huawei transformaram seus smartphones de média qualidade em dispositivos altamente sofisticados e duráveis, característica que (ainda) não é plenamente reconhecida fora da China, mas é muito bem percebida no mercado doméstico.

Marcas locais também foram mais eficientes em usar o "marketing de influenciadores" nos últimos anos, contratando celebridades chinesas para desfilarem com seus aparelhos, tática para a qual a Samsung só deu o devido valor neste ano, contratando estrelas locais para promoverem seus produtos. Too little, too late, como diriam os americanos.

A única exceção se dá entre os consumidores de alta renda, segmento em que o status muitas vezes pesa mais que as funcionalidades de um dispositivo. E, neste caso, a opção preferencial são os iPhones, da Apple, com alguma sobra para a linha Galaxy S, nicho em que a Samsung se mantém minimamente relevante na China.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.