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Felipe Zmoginski

Com fábrica em Campinas, "Tesla chinesa" não consegue decolar fora do país

Felipe Zmoginski

28/08/2018 04h00


BYD repete a velha máxima do sucesso em casa e fracasso no exterior

Build Your Dreams. Este é o lema da fabricante de automóveis BYD que ganhou fama no mundo como a "Tesla da China" por apresentar carros elétricos eficientes, confortáveis e por preços sem igual no mundo. Mais do que isso, a companhia é uma das mais avançadas, no mundo, a entregar veículos autônomos, incluindo carros de passeio e ônibus capazes de seguir rotas sozinhos.

A empresa, que nasceu como uma fabricante de baterias para alimentar a pungente indústria de hardware de Shenzhen, cidade no sul da China que concentra 9 entre 10 fábricas de eletrônicos no país, realizou o sonho de seus acionistas e fundadores: tornou-se a maior fabricante de automóveis elétricos do mundo, superando a modelo Tesla em número de unidades produzidas.

A força da BYD, porém, é mesma dos demais gigantes chineses de tecnologia, o mercado interno, onde a mão pesada de Pequim os protege da competição aberta com marcas ocidentais. No início deste ano, a companhia de Shenzhen apresentou um agressivo plano para se tornar uma marca global, obtendo autorizações para fabricar seus veículos na União Europeia, Estados Unidos e até o Brasil, onde já mantém uma linha de produção em Campinas, no interior paulista.

Já é história recorrente entre as companhias chinesas que tentam se internacionalizar, a enorme dificuldade que obtém para replicar, no mercado global, o sucesso que têm em casa. Não está sendo diferente com a BYD.  Para iniciar suas operações na Europa, a companhia fechou um patrocínio com o time inglês Arsenal, que envolvida o naming rights do estádio do clube, atualmente sob contrato com a Emirates e patrocínio na camisa vermelha inglesa. O dinheiro nunca chegou a Londres e, recentemente, a empresa chinesa disse que o Arsenal foi "enganado" por uma ex-funcionária da companhia, o que pode ser verdade. Ou apenas uma artimanha para desistir do negócio sem pagar as devidas multas ao clube inglês. Com a controvérsia, a entrada brilhante na Europa, fez água.

Nos Estados Unidos, não foi muito diferente. Após vencer uma licitação para vender ônibus elétricos para empresas que oferecem transporte público em Los Angeles, uma segunda leva de aquisição de coletivos BYD foi suspensa. De acordo com o Los Angeles Times, a companhia falsificou os resultados de desempenhos de seus veículos, que sofrem nas ladeiras e quebram com muita frequência, mesmo quando comparados a ônibus americanos que rodam há mais de cinco anos.

O jornal americano foi mais longe e acusou a companhia chinesa de fazer o uso de "suborno" para ganhar contratos nos Estados Unidos.  Pode ser uma acusação falsa, uma vez que provas não foram apresentadas, mas sem dúvidas não é um bom começo para construir uma marca em um novo mercado.  A companhia negou as acusações.

A trajetória de inovação e sucesso da BYD não deixa dúvidas de que se trata de uma empresa fabulosa, com muita tecnologia e uma capacidade de execução invejável. Os recentes escândalos em mercados fora da China, porém, levantam a dúvida de sempre: temos uma companhia chinesa capaz de se tornar uma marca bem-sucedida globalmente ou "apenas" mais um líder no mercado doméstico, cujos avanços não são, assim, tãaao avançados quando expostos à competição internacional?

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.