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Felipe Zmoginski

Alibaba, dono da maior fintech do mundo, vai prestar serviços para bancos

Felipe Zmoginski

25/09/2018 04h00


A formiga mais valiosa do mundo: agora,  a AntFinancial quer servir aos bancos

Quem já visitou a China sabe que o serviço de pagamentos AliPay, controlado pelo Alibaba por meio de sua subsidiária Ant Financial, é onipresente no país. Paga-se desde a compra de um cacho de bananas, na rua, até a compra de um anel de diamantes, em uma loja de luxo.

O serviço, que surgiu para facilitar as compras de chineses não-bancarizados no ecommerce Alibaba tornou-se um meio de pagamentos dominante, utilizado por 700 milhões de usuários na China, o que corresponde a praticamente a 100% da população conectada no país.

Um dos fatores para a disseminação do meio mobile de pagamento é que ele não cobra taxas dos usuários, pelo contrário, muitas vezes oferece "cash back", ou seja, devolve parte dos recursos gastos, como forma de incentivo a quem paga com AliPay. Na ponta do lápis, é apenas não só mais prático e seguro fazer compras com o AliPay, mas também mais econômico.

Ao mesmo tempo em que gera pouca receita por usuário, a Ant Financial investe centenas de milhares de dólares, todos os anos, para desenvolver novas tecnologias financeiras, análise de dados e consumo de seus usuários, ferramentas baseadas em blockchain e inteligência artificial, em uma equação financeira que, aparentemente, não fecha. Em tese, o principal benefício da Ant Financial para seu controlador, o Alibaba, era levar usuários e tráfego para o ecommerce da holding.

Esta semana, porém, o chefe de tecnologia da Ant Financial, Hu Xi, anunciou durante o evento "The Computing Conference", em Hangzhou, cidade chinesa onde estão sediadas as grandes fintechs do país, que a Ant Financial vai fornecer seus serviços para o setor bancário. De acordo com Xi, há mais de 100 grandes bancos com acordos de colaboração já firmados com a fintech.

Na prática, a Ant Financial agirá no modelo "open banking", ou seja, oferecendo aplicações que podem ser "adicionadas" aos aplicativos de bancos tradicionais. A fintech espera tornar-se uma fornecedora de tecnologia bancária para as instituições financeiras tradicionais, ajudá-las a medir os riscos de crédito ou cálculo de apólices de seguro, bem como direcionar seus usuários não-bancarizados para abrirem contas em bancos "tradicionais".

De acordo com  Hu Xi, tecnologias ainda não maduras no setor bancário, como transações em plataforma blockchain – consideradas mais rápidas, seguras e econômicas – serão oferecidas aos bancos como serviços.

Para analistas que acompanham a Ant Financial, este movimento pode tornar a companhia, no futuro, uma das empresas de tecnologia mais rentáveis da China. Não à toa, ao realizar o IPO do Alibaba, em 2014, na bolsa de tecnologia de Nova York, Nasdaq, o grupo deixou a divisão fintech de fora. É provável que, quando abrir seu capital, a Ant Financial sozinha torne-se um mamute de valor multibilionário.

 

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.