Investimento no Nubank é só início da onda de recursos chineses no Brasil
Há mais de uma década, os chineses compram ativos brasileiros em grande volume. A primeira onda de recursos asiáticos concentrou-se em fazendas de soja e participações em mineradoras. Depois, avançou para infraestrutura, notadamente nos últimos 18 meses, quando uma dúzia de geradoras e distribuidoras de energia foi comprada pelos orientais.
O recém-anunciado aporte de US$ 200 milhões da Tencent no Nubank sinaliza uma terceira onda de investimentos, agora concentrada nas empresas de tecnologia mais bem-sucedidas do Brasil.
Antes, tivemos a aquisição da plataforma de corridas de táxi 99 pelo Didi, grupo chinês líder neste setor em seu país. Um pouco mais cedo, a empresa de buscas Baidu fez a compra do Peixe Urbano, por valor nunca revelado.
De todos os casos, o mais promissor é justamente o que beneficia o Nubank, startup já apoiada por fundos como Sequoia Capital, Kaszek e Tiger. A diferença para o investimento chinês que chega ao unicórnio brasileiro é, justamente, a possibilidade de transferência tecnológica e expertise.
A Tencent, um titã com valor de mercado superior ao do Facebook, é líder, na China, em ferramentas de mobile payment, posição que divide com outro gigante local, o Alipay, do grupo Alibaba. Virtualmente todo chinês adulto possui um smartphone com a ferramenta de pagamento mobile da Tencent, usada para compras de valor elevado, como uma jóia, ou atividades corriqueiras, como pagar uma corrida de táxi ou comprar um cacho de bananas no camelô da esquina.
Se além de dinheiro, a Tencent usar sua inteligência para fazer o Nubank prosperar, a startup brasileira terá uma condição única de transformar o mercado de pagamentos no Brasil, acelerando a adoção de pagamento móvel em restaurantes, lojas de varejo e provedores de serviço, justamente como ocorre na China, país em que o dinheiro de papel tornou-se um item desnecessário.
O movimento da Tencent também demonstra que as corporações chinesas – que já investiram com apetite em startups dos vizinhos Indonésia e Índia – pode incluir um novo mercado em seu alvo de compras, justamente o Brasil, uma das maiores populações conectadas do mundo entre as nações emergentes. O método de investimento é sempre o mesmo: eles preferem pagar mais caro, mas investir em um líder já consolidado a assumir riscos ao apostar em empresas iniciantes, ainda sob competição. A regra de ouro para o investimento chinês em tecnologia será: torne-se líder e nós o apoiaremos.
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