Ataques a Huawei e ZTE são reação à derrota tecnológica para a China
O imbróglio em torno da prisão de uma executiva da Huawei, no Canadá, a pedido dos Estados Unidos, e as acusações de espionagem feitas, há um ano, contra a ZTE, e, mais recentemente, contra a própria Huawei, são um pretexto para defender os interesses comerciais dos Estados Unidos.
É possível (e até provável) que em algum momento ZTE e Huawei tenham, de fato, usado sua infraestrutura de TI para espionar competidores e governos fora da China. De todo o modo, isto é uma hipótese e nenhuma prova foi apresentada contra as empresas por seus acusadores, no caso, a administração Trump.
Como se sabe, empresas privadas de tecnologia são, muitas vezes, usadas para espionar a serviço de seus governos, como comprovou Eduard Snowden, ao revelar como os gigantes Google, Facebook e Microsoft generosamente abriam dados privados de seus usuários para agentes americanos, sem a devida autorização judicial, registre-se.
Esta semana, o Wall Street Journal revela que uma reunião entre chefes de espionagem de países como o Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido aconteceu em julho deste ano com um tema único: impedir o avanço da Huawei no mundo. A missão tem até nome: Five Eyes. Está ali, dito com todas as letras: chefes de espionagem do Ocidente se encontraram para planejar como parar o avanço comercial de uma empresa chinesa.
Em um mundo em que todos espionam todos, acusar um rival de "espionagem" para lhe bloquear o acesso a grandes contratos é apenas uma forma renovada de protecionismo comercial. Nos Estados Unidos, a prática protege a Cisco da competição com os produtos de telecom chineses, mais baratos e competitivos. Quase nada de "segurança nacional". Quase tudo de protecionismo econômico.
De acordo com a International Telecommunication Union (ITU), um órgão das Nações Unidas, dominar as patentes de 5G permitirá gerar 800 mil empregos qualificados e faturar até US$ 1 trilhão em royalties na década de 2021 a 30. Quem abocanhará este filão? Se as forças do mercado atuarem livremente, por mérito, venceria a China, país que registra mais patentes no setor e está um degrau acima dos rivais ocidentais no desenvolvimento das redes 5G. Além de permitir navegar mais rápido por dispositivos móveis, a futura geração de telefonia móvel é item essencial para viabilizar a indústria de carros autônomos, aplicações profissionais de realidade virtual, teleconferências em movimento e cirurgias remotas.
Além disso, desde setembro, a Huawei é também o segundo maior fabricante de smartphones do mundo, à frente da Apple e atrás apenas da Samsung, de acordo com dados da consultoria IDC. Bloquear a Huawei é, portanto, muito mais um objetivo econômico que uma ameaça "real" à segurança nacional de qualquer país. Em um cenário ideal, a ação do Five Eyes sufocaria a Huawei, limitando-a ao mercado interno.
Como nesta disputa não há ingênuos, a China se antecipa ao provável declínio que terá junto aos mercados Ocidentais avançando sobre seus vizinhos da Ásia, notadamente os parceiros da "Belt and Road Innitiative", que prioriza Indonésia, Índia e parte da África e Oriente Médio como destino preferencial de suas exportações. Como se vê, a defesa do livre-mercado e da competição é um livro que se lê só até a página dois.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.