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Felipe Zmoginski

Da ideia para produto em 3 meses: como funciona uma aceleradora de hardware

Felipe Zmoginski

01/01/2019 04h00


Robô autônomo para vigilância: testes em Shenzhen antes da produção em massa

A cidade de Shenzhen, no sul da China, tem muitas alcunhas, como "delta das pérolas" e "vale do silício do hardware". Há dois anos ganhou mais um: maternidade dos eletrônicos futuristas. A região econômica, uma das mais desenvolvidas do mundo, é responsável, há quase dez anos, pela fabricação de cerca de 90% dos eletrônicos consumidos no mundo todo, de consoles de Xbox aos iPads e iPhones.

Recentemente, tornou-se também sede de laboratórios que testam novas ideias de hardware e os transformam em produtos de sucesso, permitindo a ascensão de eletrônicos não só "assembled in China", mas também "designed in China", como os já mundialmente famosos drones da DJI e smartphones da Xiaomi.

Agora, fundos de investimento de diversos países, entre eles os Estados Unidos, estão financiando aceleradoras especializadas em colher as melhores ideias em equipamentos do mundo e levá-las para serem desenvolvidas e fabricadas em Shenzhen. Um dos exemplos é a HAX, autointitulada "a maior aceleradora de hardware do mundo".

A empresa, apoiada por fundos de venture capital que somam US$ 300 milhões prontos para investir, acelera, simultaneamente, 200 startups que devem passar até seis meses em Shenzhen trabalhando com o time de 30 especialistas da casa.

"Após serem selecionadas para o programa de aceleração, as startups com origem em todo o mundo são apresentadas a parceiros que podem oferecer os componentes necessários, como fornecedores de chips, passam por fase de protótipo e por consultoria de nosso time de designers", conta Sean O´Sullivan, principal executivo e investidor da HAX.

O time da HAX oferece, ainda, consultoria para planejar a precificação, definição de mercados-alvo e marketing dos produtos lá acelerados.  Apesar de baseada na China, a aceleradora mantém executivos de uma dezena de nacionalidades, como engenheiros alemães, designers finlandeses, especialistas em marketing dos Estados Unidos e mentores da Coréia do Sul, Canadá e Inglaterra.

Chris Friesen, chefe de tecnologia da Axem, uma empresa que desenvolve dispositivos para leitura cerebral, afirma que ser apoiado por uma aceleradora de Shenzhen significa que seu produto chegará mais rápido à fase de comercialização. "Além da experiência dos mentores e profissionais de Shenzhen, você está perto das plantas fabris mais avançadas do mundo", explica Friesen, cujo principal produto é um monitor de sensações nervosas, que visa ajudar esportistas e médicos sob situação de stress a compreenderem como melhorar sua performance, identificando as sinapses cerebrais que os fazem acertar ou cometer erros.


Exames de sangue mais baratos com resultado imediato

De acordo com Sean O´Sullivan, não há datas para se inscrever em programas de aceleração. "Nossas seletivas estão abertas o ano todo, se uma ideia for boa, podemos chamar o candidato para conversar a qualquer momento", diz.  Como qualquer aceleradora, a HAX fica com um pequeno percentual do capital das empresas apoiadas e pode, ela própria, ser o fundo de investimento a apoiar o crescimento de uma startup.

Entre os produtos que já chegaram ao mercado após passarem pela HAX estão fones de ouvido capazes de se adequar a audição de quem os usa (o som é rebaixado para quem tem ótima audição e elevado para quem ouve mal), botas de esqui capazes de corrigir movimentos dos pés dos esquiadores, evitando que iniciantes levem tombos e consigam aproveitar temporadas na neve, e um dispositivo que, acoplado a um smartphone, permite, com uma gota de sangue, medir indicadores como colesterol e triglicérides.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.