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Felipe Zmoginski

Queda da Apple simboliza transformação chinesa

Felipe Zmoginski

08/01/2019 04h37


Apple Store em Xangai: filas por um produto Apple já foram maiores

"Nossa receita será menor do que prevíamos". A frase lacônica, escrita por Tim Cook em carta aos acionistas, aponta que a Apple vai faturar US$ 5 bilhões a menos no ano fiscal de 2019 (concluído em 29 de dezembro) do que inicialmente previsto. A culpa do tombo é (quase) toda da China.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China e a desaceleração econômica do país asiático seriam os fatores responsáveis pela vertiginosa queda de vendas da Apple no maior mercado consumidor de eletrônicos do mundo. Tudo bem, ambos argumentos têm seu valor, mas não explicam a principal razão por trás da baixa nas vendas chinesas de iPhones. O fator central é que a China de 2019 não é mais o país que, em 2008, sustentou o crescimento das vendas da Apple, mesmo após a crise global desencadeada pela "bolha imobiliária" americana.

Em 2018, mais de 750 milhões de chineses já possuíam um smartphone. Há dez anos, este indicador era de 400 milhões de pessoas. Em outras palavras, a maior parte das vendas, agora, acontece para substituição do modelo anterior e não pela entrada massiva de novos consumidores no mercado. Ao menos neste setor, a China tornou-se um mercado maduro, assim como a Europa e os Estados Unidos. E mercados maduros crescem mais lentamente.

Mais importante, porém, é a ascensão das marcas locais. Se no resto do mundo Apple e Samsung reinam como as marcas mais desejadas para smartphones, na China elas encontram rivais igualmente competitivos e que carregam a vantagem de entregar mais hardware por uma fração do preço de um iPhone X e um Galaxy S9. Este é o caso, por exemplo, do Huawei P20 ou do OPPO Find X.


Huawei P20 com lentes Leica: qualidade superior por preço mais baixo

Modelos da Xiaomi ou da Vivo, celebradas fabricantes chinesas, são ainda mais capazes de atender aos desejos do consumidor local, como câmeras especialmente desenhadas para selfies, com filtros automáticos de "embelezamento" dos rostos, um "must have" na Ásia, inacreditavelmente ignorado por players Ocidentais em sua "localização" precária para os "pain points" chineses.

É fato que ir ao bar com os amigos portando um iPhone Plus de última geração é um símbolo de status valioso em qualquer país do mundo, mas na China já valeu muito mais. Carregar um Xiaomi pode ser (quase) tão descolado quanto ter um iPhone, além de custar incrivelmente menos.

Na nova China, moderna, rica e orgulhosa de seus avanços, a maçã mordida já não cintila como antes. E não há sinais de que esta realidade mudará tão cedo.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.