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Felipe Zmoginski

Inteligência artificial é única saída para uma China em desaceleração

Felipe Zmoginski

05/03/2019 04h21


Entregador da Meituan Dianping: custos crescentes e economia em desaceleração

Dez entre dez anúncios de produtos de tecnologia na China carregam as letras "AI". A sigla em inglês para "Inteligência Artificial" é uma obsessão no país e, mais que o desejo confesso de se tornar líder mundial neste tipo de tecnologia, AI é visto por muitas companhias locais como a única forma de manterem seus lucros em expansão em uma economia vibrante, mas que já não cresce como há uma década.

Em 2018, o crescimento do PIB chinês deve ser confirmado em 6,6%, alto para nossos padrões, mas o menor desde 1990 para os chineses. O tempo do crédito fácil, da baixa fricção entre competidores e novos mercados a se conquistar, definitivamente, ficou para trás. A agressividade dos empreendedores chineses que encantou os mercados com um ritmo de crescimento veloz também já não é, assim, tão sedutora.

Grandes unicórnios chineses, como a empresa de locação de bikes dockless Ofo e a empresa de delivery de comida Ele.me, antes exemplos de sucesso, agora enfrentam dificuldade para continuarem a existir em um mercado maduro, que já não adiciona tantos novos consumidores, além de enfrentarem uma renhida competição com players que oferecem exatamente os mesmos serviços que elas.  Joga contra os unicórnios chineses de "O2O", sigla que designa modelos de negócios que misturam um braço online (como pedir comida pelo app) com uma operação offline (como colocar um entregador na rua para entregar a refeição) a rápida ascensão dos custos locais, como mão de obra. O tempo da migração em massa do campo, que inundava as cidades de mão de obra barata também ficou para trás na nova China, um país rico e desenvolvido.

Para empresas como o líder em serviços de táxi por aplicativo Didi e a plataforma de vendas coletivas Meituan Dianping, só há saída para sua sobrevivência: investir em soluções de AI que diminuam os cada vez mais pesados custos offline.

Criada por Wang Xing, a Meituan já foi apontada como "copy cat" do Groupon para, anos depois, revolucionar o sistema de compras coletivas adicionando todo tipo de ofertas de bens e serviços casados com georreferenciamento. O mesmo raciocínio vale para a Didi que adicionou sistemas de predição de trânsito e criou plataformas para o gerenciamento do tráfego em grandes cidades chinesas, indo muito além dos serviços do Uber, seu equivalente americano.

Para ambas empresas, manter a curva dos lucros em ascensão é missão impossível frente à elevação de seus custos no mundo offline chinês, como remunerar motoristas ou fazer entregas físicas de produtos. A não ser, é claro, que liderem a próxima revolução em suas cadeias produtivas, como a adição de camadas de inteligência artificial a seus modelos de negócio.

Sistemas capazes de criar rotas mais inteligentes ou substituírem os colaboradores por máquinas são essenciais para dar novo impulso às já não tão brilhantes operações de O2O. É provável que nomes como Didi, Meituan e uma miríade de serviços O2O, como Ele.me e Ofo, nunca sejam, de fato, reconhecidos como operações de inteligência artificial, como já o são, na China, Baidu, Alibaba e Tencent.  Mas sem a camada de AI para otimizar os cada vez mais custosos custos offline, os modelos destas empresas estarão sob forte risco de deixarem de existir.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.