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Felipe Zmoginski

Com megateste no trânsito, China avança na guerra dos carros autônomos

Felipe Zmoginski

02/04/2019 04h00


Baidu, Pony.AI e Didi testam carros sem motorista em Beijing

Cinquenta carros autônomos percorreram, ao longo do ano passado, mais de 150 mil quilômetros dentro do perímetro urbano de Pequim, informou esta semana o departamento de trânsito da capital chinesa.

Segundo as autoridades locais, oito diferentes empresas têm autorização para rodar seus carros na cidade de Pequim, em operações controladas que servem de teste. O líder neste setor é o Baidu, que colocou 40 carros em diferentes datas circulando pela cidade em testes reais de direção.

Os veículos do Baidu, sozinhos, respondem por dois terços da distância total percorrida por carros autônomos, seguidos pelos automotores da Pony.AI, empresa especializada em automatizar carros de montadoras terceiras.

Os números são relevantes pois apontam para a maturidade dos projetos dos carros autônomos na China. Como ocorre com inovações na aeronáutica, novas tecnologias precisam de "muitas horas de voo" e testes em condições reais até poderem ser comercializadas amplamente.

Também participam de projetos autônomos a Tencent e a Didi, um aplicativo de táxis que comprou a 99 no Brasil e engoliu o Uber na China. Têm autorização, ainda, para rodar veículos do tipo na China a estatal BAIC e a alemã Daimler.

A China estima que, até 2035, todos os carros novos que saírem de fábrica serão totalmente autônomos ou, ao menos, parcialmente autônomos. Além de testes de segurança, a disponibilidade de redes 5G para que os veículos troquem dados entre si e o custo final destes automóveis são empecilhos para a comercialização em massa destes produtos.

Os números apresentados esta semana, embora impressionantes, ocultam uma informação importante: o número de vezes em que os carros autônomos exigiram intervenção do motorista humano. Explica-se: pelas atuais leis de trânsito, o tráfego de carros autônomos é autorizado nas cidades, mas um motorista deve ficar sentado ao volante para atuar em casos de emergência.

Quando testei um veículo do tipo, em novembro, testemunhei ao menos uma vez o que as montadoras chamam de "desengajamento", que é o nome dado às situações em que a inteligência do carro não consegue decidir, sozinha, o que fazer. Nestes episódios, o motorista toca um painel de LED no volante, desligando a "autonomia" do carro e assumindo seu controle.  O sentido autônomo pode ser religado logo depois. De acordo com o Baidu, em média, é preciso uma intervenção do motorista a cada 320 quilômetros rodados.

Ter uma frota autônoma rodando nas ruas antes desta tecnologia se popularizar em outros países é considerada uma conquista estratégica para o setor automobilístico chinês, que (ainda) não goza do mesmo prestígio das montadoras japonesas, americanas ou mesmo coreanas, como a Hyundai. O governo central da China definiu, aliás, como meta prioritária que o país seja líder mundial de aplicações de inteligência artificial até 2030. A julgar pelo avanço dos carros autônomos chineses, há chances reais de que isto aconteça.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.