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Felipe Zmoginski

Como o revide da China a ataques dos EUA vai atingir outro alvo: seu bolso

Felipe Zmoginski

04/06/2019 04h25

Ninguém integra iPhones de modo tão eficiente quanto os chineses

Após o veto do governo norte-americano à Huawei, os chineses vinham se mantendo na defensiva, evitando um confronto aberto. Mas nesta semana a China prepara lista de de "entidades não confiáveis" dos EUA que também sofrerão retaliações. No meio desta batalha, é possível que nós precisemos pagar mais caro para trocar de notebook e smartphone

A guerra comercial entre os Estados Unidos e China ganhará um novo capítulo nesta semana.  Wang Hejun, um alto comissário do ministério do Comércio, afirmou que os asiáticos preparam uma lista de "entidades não confiáveis" que sofrerão retaliações.

Hejun não deu detalhes sobre que tipo de retaliações serão anunciadas nem anunciou prazo para torná-las públicas. Segundo o oficial chinês, no entanto, "pequenas empresas, grandes corporações e até mesmo indivíduos" estão inseridos nesta lista. Há dez dias, a China anunciou a sobretaxa de produtos agrícolas americanos, que aumentam em 25% os custos para estes produtos entrarem no país asiático.

Desde o início dos ataques americanos às empresas chinesas, os chineses vêm se mantendo na defensiva, evitando um confronto aberto. Como a China tem monumentais superávits com os Estados Unidos, a guerra aberta é desfavorável aos chineses. O agravamento da disputa, que atingiu seu auge com o "banimento" da Huawei em fazer negócios com empresas americanas, deve fazer a China mudar de postura.

"Para a China, o confronto não é interessante. No entanto, o atual presidente do país, Xi Jinping, não quer transmitir uma imagem de fragilidade para seu público interno e está sendo forçado a reagir", afirma Roberto Dumas, professor de economia chinesa do IBMEC.

O grande temor do mundo tec é que a reação da China afete a produção e venda de produtos da Apple em seu país. A consultoria IHS, por exemplo, estima que o custo dos iPhones, por exemplo, seria quase o dobro se a fabricação destes aparelhos fosse feita nos Estados Unidos, e não nas fábricas da Foxconn, em Shenzhen, sul da China.

Para analistas deste mercado, se quiser atingir com força os Estados Unidos, a melhor opção da China seria banir a Apple de vender seus produtos no mercado doméstico e taxar a saída dos produtos da companhia de Cupertino de seu país. As consequências, obviamente, seriam sentidas no mundo todo, por qualquer pessoa que compre produtos da Apple.

O cenário mais provável, no entanto, é que a China estique a corda e aumente a pressão contra as empresas americanas sem, no entanto, radicalizar. O objetivo seria apenas forçar os americanos a virem para a mesa de negociação.

Há uma expectativa, por exemplo, de reverter o banimento a Huawei ainda este ano, caso os dois países façam concessões. Nesta semana, por exemplo, a China acusou a empresa de logística Fedex de mandar encomendas com destino a outros países asiáticos para lugares errados, apenas para boicotar a economia chinesa.

Trata-se, até o momento, de uma guerra de palavras. No entanto, no meio desta batalha, é possível que cidadãos comuns e inocentes, como eu e você, precisemos pagar (muito) mais caro para trocar de notebook e smartphone, se os chefões de China e Estados Unidos não forem razoáveis.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.