Topo

Felipe Zmoginski

Veja quatro tendências tec da China que você precisa conhecer

Felipe Zmoginski

06/08/2019 04h00


Chinesa paga conta via reconhecimento facial: inteligência artificial é expressão obrigatória

A rápida ascensão das empresas chinesas e a transformação da economia do país em referência de inovação tornaram obrigatório a todos que acompanham o mundo tec manter um olhar atento sobre a China.

Este mês, a consultoria Abacus e o jornal South China Morning Post, publicação controlada pelo grupo Alibaba, publicaram a versão 2019 do mais importante relatório sobre o estado da economia digital do país. Os números revelam que o crescimento da internet chinesa continua vigoroso, apesar de a economia offline do país demonstrar desaleceração.

A China, diz o relatório, mantém a maior população mundial online, com 829 milhões de pessoas conectadas, das quais 583 milhões usam pagamento móvel regularmente. Apenas este último número é maior do que toda a população dos Estados Unidos, segundo maior mercado em volume de pagamentos móveis.

O estudo mostra ainda a ascensão de um novo trio de empresas líderes no setor digital chinês. A tradicional tríade Baidu, Alibaba e Tencent, conhecida pela sigla BAT, agora encontra rivais que lhe fazem sombra, o trio TMD.  A sigla é referência às empresas Toutiao, aplicação líder em notícias digitais; Meituan, super app de serviços com delivery de comida ou venda de ingressos para filmes e shows; e Didi, o equivalente ao Uber na China.

A pesquisa, feita a partir de entrevistas com os executivos-chefes das principais empresas de internet do país, além da coleta de dados de agências governamentais chinesas, indica quatro grandes tendências para o futuro digital chinês. Veja quais são elas.

Agora, o Ocidente copia a China

Inovações digitais que surgiram na China tem, cada vez mais, influenciado o desenvolvimento de serviços online no Ocidente. A Amazon, por exemplo, passou a realizar "lives" comandadas por influenciadores promovendo produtos de sua plataforma. A técnica é uma cópia do que o Tao Bao, serviço do Alibaba, já faz já dois anos. No Japão, por exemplo, o app Line, equivalente ao WhatsApp, passou a integrar serviços como pagamentos móveis, carteira digital, transmissões de vídeo para celular e distribuição de conteúdo, como notícias e entretenimento. A técnica é uma cópia do que o WeChat, da Tencent, faz há alguns anos.

China avança sobre o 5G

Na China, o acesso a redes 5G já é uma realidade em uma dezena de cidades, beneficiando um total de 167 milhões de usuários. Entre as vantagens da tecnologia estão a maior velocidade de tráfego de dados móveis, menor custo de manutenção e a viabilização de serviços avançados como telemedicina e a gestão de robôs e veículos autônomos. Empresas chinesas, como a Huawei, lideram o registro de patentes 5G. Ao todo, a China detém 3,4 mil patentes reconhecidas desta tecnologia. Os Estados Unidos, por sua vez, apenas 1,3 mil.

Uso massivo de inteligência artificial

O uso em massa de algoritmos de AI já pode ser percebido nas ruas da China, como nas estações de metrô em que se paga a tarifa por reconhecimento facial; nas lojas autônomas da Jing Dong, onde se prova roupas via avatares virtuais; e em hotéis como o FlyZoo, do grupo Alibaba, em que todos os serviços, do check-in ao check-out, são realizados via biometria e troca de informações de nosso corpo com dispositivos conectados.

Crédito social ganha se torna realidade

O controverso sistema em que cada cidadão é avaliado por meio de uma pontuação, em testes no país desde 2014, agora torna-se uma realidade. Pagar contas com atraso, sofrer condenações na Justiça, tornar-se inadimplente, dirigir bêbado ou simplesmente gastar tempo demais em jogos online, faz os cidadãos chineses receberem más pontuações. Até 2020, a China pretende integrar estas avaliações realizadas por diferentes serviços e criar um sistema nacional que premie bons cidadãos e puna pessoas com mau comportamento, como ser multado por jogar papel no chão. As punições, fora da esfera criminal, não pretendem prender ninguém, mas impedir pessoas com má reputação de usar os trens-bala chineses ou viajar de avião dentro do país. De acordo com o relatório, atualmente 13,5 milhões de pessoas são avaliadas como não suficientemente confiáveis.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.