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Felipe Zmoginski

Jovens estão abandonando WeChat na China para evitar os pais

Felipe Zmoginski

04/09/2019 04h00

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TikTok: eles preferem estar onde os pais não os vigiam

As diferenças culturais entre Ocidente e Oriente certamente são muitas, mas o desejo dos adolescentes de manter suas aventuras entre amigos longe do conhecimento dos pais parece ser universal.

Um relatório divulgado nesta semana pela consultoria JiGuang revela que a China vive o mesmo fenômeno registrado no Brasil, Europa ou Estados Unidos, regiões em que jovens passaram a usar menos a rede social dominante, neste caso o Facebook, para evitar que seus pais os vissem fazendo coisas, digamos, desabonadoras. Nessas regiões, o beneficiário maior foi o Snapchat.

Na China, a rede dominante é o WeChat, app utilizado por 1 bilhão de usuários únicos, o que incluir virtualmente todos os chineses capazes de segurar um celular com as mãos. Ao contrário da rede criada por Zuckerberg, o app da Tencent é, no entanto, muito mais que uma rede social, integrando pagamentos e uma miríade de serviços digitais que o tornam praticamente uso obrigatório para sobreviver na China moderna.

Um lugar para os tiozinhos: adolescentes acham o WeChat velho demais

Segundo a análise da JiGuang, entre os chineses nascidos após o ano 2000, portanto com 19 anos ou menos, só 15% fazem postagens no item "Momentos", equivalente à timeline do Facebook.  Entre o público geral, a média de publicações em "Momentos" supera 57%.

O estudo aponta que os adolescentes chineses não deixaram totalmente de lado o WeChat, app do qual dependem para pedir um táxi, fazer um pagamento ou mandar mensagens de texto e voz para os amigos. No entanto, na hora de utilizar funções sociais, como compartilhar momentos importantes de suas vidas, preferem outras redes.

O maior beneficiário dessa migração é o app TikTok, do grupo ByteDance Doyin, incrivelmente popular entre os adolescentes na China. Sem o olhar vigilante das mamães e papais, é possível publicar registros das festinhas em que se misturam garotos e garotas, experimenta-se cigarros ou mesmo cantam uma inofensiva música no KTV… em horário de aula.

Para os especialistas ouvidos pela consultoria JiGuang, sempre que uma aplicação atinge uma massa tão grande de usuários, como o WeChat, abre-se uma brecha para o surgimento de novos competidores, que sejam capazes de melhor atender nichos específicos.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.