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Felipe Zmoginski

Fim de uma era: o adeus de ícone da web chinesa ao Alibaba após 20 anos

Felipe Zmoginski

11/09/2019 04h00


Há 20 anos, Jack Ma (em pé) fazia história em um apartmento em Hangzhou

Esta é a última semana em que fundador do império digital Alibaba dá expediente em sua sala, no terceiro andar da cidade digital, nome dado ao headquarter da empresa, na cidade de Hangzhou, na China.

Ao contrário de outros grandes empreendedores digitais chineses, como o fundador do Baidu, Robin Li, e o criador da Tencent, Ponny Ma, Jack Ma é uma figura extrovertida, carismática e dono de um inglês fluente, que o ajudaram a se tornar uma figura pop no mundo, equivalente ao que Bill Gates ou Steve Jobs representam para a imagem da indústria digital do Ocidente.

Sem saber programar ou mesmo trabalhar com um computador até os 30 anos de idade, Ma teve a visão de que o e-commerce se tornaria o método dominante de compras na China e, com habilidade fora da curva para o marketing, criou estratégias inventivas para convencer o desconfiado consumidor chinês dos anos 90 a acreditar que era possível fazer compras na internet e, depois, convencê-los a criar carteiras de dinheiro que só existe na internet, com a invenção do AliPay.

Fundador de um império avaliado em meio trilhão de dólares, Ma anunciou que deixaria o comando da empresa há exatos 12 meses, passando o bastão para Daniel Zhang, atual CEO da companhia, conduzir uma transição ao longo de um ano. Na China, o boato preferido entre os trabalhadores da indústria tech é que a saída de Ma tem o dedo, as mãos, os braços e as pernas do governo. O super empresário estaria ficando poderoso demais e, por isso, seria hora de sair de cena.

Réplica da primeira loja do TaoBao: Ma convenceu os chineses a comprar online

Difícil comprar tal teoria da conspiração. Quantos não são os bilionários em todo o mundo que, após décadas de trabalho das 9h da manhã às 9h da noite, não preferem usar seu tempo de forma mais, digamos, relaxada? Também foi assim com Bill Gates, na Microsoft, por exemplo.  O próprio Ma já declarou que tem sido pressionado pela família a trabalhar menos. "Minha esposa diz que não me casei com ela, que sou casado com o Alibaba", disse em conferência, há dois anos.

O novo CEO da megacorporação terá, agora, o desafio de transformar a empresa de e-commerce em uma plataforma de serviços digitais e internacionalizar a companhia, ainda dramaticamente dependente do mercado doméstico.  Além da operação Alibaba.com, a companhia mantém os serviços de vendas B2B e C2C TMall e TaoBao, a empresa de tecnologia logística Cainiao, a operação de nuvem AliCloud e o serviço de entrega de refeições Ele.me.

Soma-se a tudo isso a Ant Financial, mais valiosa subdivisão do grupo, responsável pelo serviço líder em pagamentos digitais AliPay e que virtualmente acabou com o dinheiro de papel na China.

Um cenário auspicioso, sem dúvida. Mas que não convenceu os investidores de que terá o mesmo brilho sem Ma no comando. A confirmação de sua saída da empresa fez os papéis do Alibaba perderem 4% de valor na NYSE, onde são negociados desde o IPO da empresa, o maior da história das bolsas de valores em todo o mundo.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.