Leilão do 5G é causa real de Trump taxar alumínio do Brasil
Não era amor. Era cilada. O hit do grupo de pagode Molejo musicou o tsunami de memes que fez troça com o presidente Jair Bolsonaro tão logo seu colega americano anunciou, via Twitter, sobretaxas ao alumínio brasileiro. Oficialmente, a justificativa é que o Brasil desvalorizou sua moeda ante o dólar. Nada mais falso.
Cercado por americanófilos como os ministros Paulo Guedes e Ernesto Araújo, Bolsonaro tem feito tudo o que pode para agradar aos Estados Unidos. Cedeu o uso da base de Alcântara, no Maranhão, isentou os americanos de visto de turismo (sem reciprocidade) e abdicou do status de "país em desenvolvimento" em negociações na Organização Mundial de Comércio.
O presidente brasileiro provavelmente deseje, sinceramente, um alinhamento com os Estados Unidos. Na política, como na vida, no entanto, desejar nem sempre é poder. Há um mês, quando a Petrobrás realizou o aguardado leilão de quatro áreas do pré-sal, nenhuma empresa estrangeira ofereceu seus dólares ao Brasil. Duas estatais chinesas, CNOOC e CNODC, salvaram o leilão do fiasco total. Também em novembro, ao visitar o Brasil por conta de reunião dos Brics, o presidente chinês ofereceu US$ 100 bilhões em financiamento a partir de fundos estatais chineses para obras de infraestrutura no Brasil.
O ouro de Pequim, no entanto, tem seu preço. No encontro dos Brics, entre uma e outra xícara de chá, Bolsonaro foi lembrado de que a Huawei tem ótimas soluções 5G. Ao que tudo indica, por mais que ame Trump, Bolsonaro não mais fará objeção à participação da Huawei como fornecedora de tecnologias 5G no Brasil. Todos aqueles impropérios que Jair proferiu contra a China na campanha de 2018, bem, foram apenas retórica. Em um país com 13 milhões de desempregados e uma infraestrutura em clamorosa necessidade de investimentos, quem não voltaria atrás?
Como todos sabemos, em situação normal de competição, as soluções da Huawei para 5G são mais baratas e eficientes que as oferecidas por empresas americanas, como Cisco, ou europeias, como Nokia. Não à toa, a fabricante chinesa está no epicentro da guerra comercial entre China e Estados Unidos, já que liderar o mercado 5G garantirá uma vantagem estratégica na economia das próximas duas décadas.
Oficialmente, os Estados Unidos dizem que não compartilharão informações sensíveis com países que usem redes da Huawei, acusando-a, sem provas, de espionagem, ameaça que parece não ter surtido efeito sobre o Brasil. Então, Trump lançou mão de uma retaliação econômica, ainda não concretizada, avisando que vai taxar nosso alumínio.
O exportador de chapas metálicas, que não tem nada a ver com a disputa pelo controle do 5G, deve pagar a conta da briga sino-americana, já que o Brasil não tem como recuar em sua parceria com a China, economia da qual o mundo está se tornando dependente.
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