Chineses podem ganhar 4 vezes mais para tirar atraso na produção de iPhones
Após quase um mês (25 dias, para ser exato) sem funcionar em função do surto de coronavírus, as fábricas da Foxconn estão oferecendo bônus de até quatro vezes o salário de um operador de máquinas para dar conta da produção de iPhones na China.
Maior integradora de eletrônicos do mundo, a empresa fundada em Taiwan e com fábricas em mais de 30 países (inclusive no Brasil) é a principal montadora dos produtos da Apple que abastecessem Apple Stores na China, nos Estados Unidos e na Europa. Apesar da presença global, a maior parte da produção de gadgets da Apple se concentra na China, onde a produtividade é maior e o custo, por unidade fabricada, menor.
Desde o feriado de ano-novo chinês, no entanto, as plantas fabris da empresa em Zhengzhou e Shenzhen estiveram fechadas, como forma de contribuir para o controle da crise de saúde no país. Desde a segunda-feira (24 de fevereiro), porém, as fábricas estão sendo autorizadas a operar em diversas cidades do país, uma vez que o número de casos de infecção pelo novo vírus vem caindo aceleradamente.
Em Zhengzhou, interior norte do país, não só os trabalhadores regulares foram convocados, mas novas vagas abertas. Um operário ganha, em média 5.000 RMB ou o equivalente a R$ 3 mil. Iniciantes podem ganhar apenas 1750 RMBs ou algo como R$ 900 pelo mês de trabalho. Nesta fase em que é necessário recuperar o tempo perdido, porém, a empresa está oferecendo bônus de até quatro vezes o rendimento mensal do trabalhador, para que volte a seu posto.
A permissão para as fábricas operarem, no entanto, dependem do cumprimento de uma série de medidas profiláticas, como o fornecimento de máscaras para proteção respiratória, critérios redobrados de higiene pessoal e desinfecção de áreas comuns a cada troca de turno. Tais medidas podem ser cumpridas por grandes fábricas, como a Foxconn, mas representam um obstáculo para pequenos e médios fabricantes que possuem menor margem de lucro para absorver os novos custos impostos pela crise de saúde. Em algumas cidades, por exemplo, o governo autoriza o funcionamento de fábricas, mas exige que as empresas ofereçam ônibus próprios para transportar seus operários ou adotem horários alternativos, evitando a lotação do transporte público convencional, que poderia ser um vetor de transmissão do coronavírus.
Oficialmente, a Foxconn não confirma as informações publicadas por seus funcionários, nos fóruns de internet chineses, de que bônus especiais estão sendo pagos para quem voltem ao trabalho. "Não comentamos nossa política de remuneração e asseguramos que, onde voltamos a operar, estamos cumprindo com rigor todas as determinações exigidas pelas autoridades locais", diz a empresa, em nota à imprensa.
Em outra nota, desta vez voltada para seus investidores, a Foxconn afirma que suas fábricas na Índia e México trabalham com ocupação máxima para dar conta da demanda global por iPhones, mas admite que terá "perdas significativas" em seus resultados financeiros da primeira metade de 2020.
Mesmo na China, onde voltou a operar, a empresa deve exigir sacrifícios adicionais de seus colaboradores. De acordo com muitos funcionários, os bônus que podem chegar até a quatro vezes seus salários estão condicionados a cumprirem metas agressivas pelos próximos 60 e 90 dias. Ao que tudo indica, a quarentena que muitos chineses viveram dentro de suas casas durante as últimas semanas será substituída por um novo tipo de quarentena, agora dentro das fábricas, para recuperar a produção perdida.
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