Topo

Felipe Zmoginski

Após demissões em massa, China usa superapps para empregar todo mundo

Felipe Zmoginski

25/03/2020 04h00

Formatura na Universidade de Pequim: falta emprego para os jovens (Reprodução/ Beiijing Daxue)

A epidemia de covid-19, que varreu a China de janeiro a março, deixou, além do trágico saldo de 3,2 mil mortos, um exército de pessoas desempregadas. De acordo com Pequim, 5 milhões de pessoas perderam seus empregos no período, vítimas do brutal desaquecimento econômico causado pelo bloqueio de cidades inteiras.

Apesar de o país sair da quarentena forçada, as tradicionais feiras de empregos ainda são proibidas no país, que segue cauteloso com aglomerações. Para contornar esta restrição e auxiliar empresas que precisam recontratar mão de obra, os "superapps" chineses estão organizando "feiras virtuais" para conectar quem procura trabalho com empregadores que necessitam de suas habilidades.

"Superapp" é um nome dado para aplicativos que concentram inúmeras funções, um fenômeno típico da internet chinesa. São "superapps", por exemplo, o meio de pagamento Alipay, o comunicador WeChat e o serviço de compras online Meituan. Neles, é possível além de executar as funções para as quais foram originalmente projetados– como pagar, conversar e comprar–, realizar uma miríade de serviços, como  pedir um táxi, reservar mesa em restaurante, comprar bilhetes de trem, fazer supermercado e até, bem, procurar uma namorada! Ou namorado, claro.

Agora, estes aplicativos ganharam mais uma funcionalidade: conectar desempregados com empresas. O serviço Alipay, por exemplo, informou que 1,64 milhão de chineses conseguiram emprego por meio de sua plataforma desde o início do ano.

Inicialmente, as vagas mais preenchidas foram desenvolvedores de programas, motoristas de delivery e profissionais de atendimento on-line, funções em alta nos meses de quarentena. O serviço de vagas criado pela Alipay usa inteligência artificial para encontrar perfis adequados para vagas abertas e conectá-los com entrevistadores por meio virtual, sem a necessidade de contado físico.

Embora esta seja uma função recente, a plataforma Alipay já conta com 60 mil empresas cadastradas e 100 mil posições de trabalho abertas. Entre as empresas inscritas, estão grandes companhias, como a fabricante de eletrônicos Haier, a seguradora Ping An, o fabricante de aparelhos Gree e o próprio grupo Alibaba, controlador do app Alipay. A feira virtual com conexões para videoconferência vai durar até o final de junho.

Com a economia parcialmente paralisada por dois meses, fábricas e escritórios continuam a enxugar seus quadros para enfrentar a alta dos custos e queda da demanda. Dados da primeira quinzena de março do ministério do Comércio da China relatam que, até agora, 40% das empresas de serviço ainda não voltaram a operar completamente.

Isso ocorre porque os eventos públicos foram cancelados pela epidemia de covid-19. Trata-se de situação preocupante, pois a nova safra de recém-formados está competindo por vagas praticamente inexistentes com aqueles que foram demitidos em função do surto.

Na situação atual de crise, prevê o governo chinês, milhões de jovens ficarão sem trabalho. O ministério da Educação da China estima que o total de recém-formados em 2020 chegará a 8,74 milhões, aumento de 400 mil em relação ao ano passado.

Para amenizar essa carência de trabalho, Zhang Yanan, gerente-geral da divisão de negócios da Alipay Education, afirma que a plataforma tem seções especiais dentro da feira de empregos para os graduados da universidade de Hubei, situação onde a quebradeira de empresas foi maior, e também às pequenas e médias empresas.

Em fevereiro, o desemprego na China atingiu a sua máxima histórica. Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, a taxa de desemprego urbano aumentou de 5,3% em janeiro para 6,2% em fevereiro, a maior taxa desde que o índice foi criado, nos anos 80.

É claro que, além de oferecer um serviço de utilidade pública, a Alipay também tem razões econômicas. A empresa quer ganhar a preferência dos chineses no mercado de serviços, segmento em que ainda está atrás de seus principais competidores, Meituan e WeChat.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.