Na pandemia, Brasil "imita" chineses na adoção de tecnologia para compras
O fato de a China ter sido o primeiro país a mergulhar em uma quarentena, que lá durou dois meses, e depois ser também a primeira grande economia a sair dela, transformou a nação em uma espécie de referência para compreensão de como se comportarão as pessoas – e os agentes econômicos – no pós-covid.
Por lá, a crise sanitária forçou as empresas a acelerar seu processo de transformação digital e modificou o comportamento dos consumidores, que passaram a usar mais apps e tecnologias digitais para compras. Mesmo os idosos ou pessoas chamadas de "late adopters" aderiram, em função da pandemia, em ritmo inédito às soluções de tecnologia para compras.
Agora um estudo publicado pela FSB Pesquisa, sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria, demonstra que os mesmos caminhos trilhados pela China no primeiro trimestre deste ano se replicam no Brasil, com alguns meses de atraso. Segundo o estudo brasileiro, "a taxa de penetração" do e-commerce entre pessoas de 60 anos ou mais subiu de 21% para 25%, mesmo fenômeno registrado na Ásia.
Com receio de sofrer golpes ou com pouca intimidade com a tecnologia, esta faixa etária é a que menos compra online, mas também é a que mais teme ser contaminada pela covid, o que impulsionou a adesão deste público às ferramentas digitais.
Chamado de "Os Brasileiros e o Consumo no Pós-isolamento", o estudo entrevistou consumidores em todo o Brasil entre 10 a 13 de julho. Na análise, a CNI verificou que a resistência dos brasileiros às compras online está caindo. Em maio, pouco menos da metade dos entrevistados (47%) responderam que não faziam e nem pretendiam fazer compras online. Dois meses depois (julho), esse percentual caiu para 43%. Entre aqueles que não faziam, mas que pretendiam comprar online, o percentual aumentou de 6% para 8%. E o público que começou a experimentar as compras online após o isolamento social dobrou, passando de 3% para 6%.
No Brasil, assim como na China, o principal público das lojas virtuais tem entre 16 e 24 anos, conforme a CNI. A maioria (55%) já comprava online antes da pandemia e outros 10% que não costumavam fazer isso, agora afirmam que vão se juntar a esse grande contingente.
Na China, a corrida ao e-commerce fomentou ainda a explosão de um fenômeno chamado de "live commerce" em que especialistas em serviços como maquiagem, eletrônicos ou carros, por exemplo, fazem transmissões ao vivo dentro das plataformas de venda, buscando orientar, divertir e tirar dúvidas do consumidor. No último mês, no Brasil, ao menos duas marcas anunciaram experiências similares: a Magazine Luiza, com ação de streaming no Instagram, e a varejista de moda Renner, que contratou a atriz Fernanda Paes Leme para apresentar suas lives.
Ressalvadas as particularidades econômicas e culturais entre Brasil e China, o exemplo asiático mostra que novas tecnologias e comportamentos verificados durante a pandemia são semelhantes em diferentes partes do mundo. Enquanto o mercado consumidor brasileiro tem carências de infraestrutura logística (a conexão 4G não cobre todo o território) e de pessoal, a China exibe infraestrutura de rede robusta, além de logística para entregas mais eficiente. Lá, mais de 200 milhões de pessoas já usam serviços 5G, por exemplo.
Se seguir outras tendências já verificadas na China, é esperado que o consumidor brasileiro exija comodidades como entrega por delivery em tempo rápido (same hour delivery) e métodos de pagamento sem contato em pontos de varejo físico.
Uma tendência que, infelizmente, não se replicou no Brasil foi a adesão massiva da população aos cuidados preventivos, como uso permanente de máscara em locais públicos e a manutenção rigorosa de distanciamento social até que a epidemia fosse vencida. Neste ponto, o comportamento registrado aqui é mais similar, por exemplo, ao anotado nos Estados Unidos, em que a abertura econômica, incluindo retorno de crianças às escolas, ocorre com um número elevado de infeções. Estados Unidos e Brasil são os dois países com mais casos de covid no mundo. A China, apesar de ter sido o epicentro original da crise, conteve o número de óbitos abaixo de cinco mil pessoas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.