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Quatro tecnologias que mudaram o dia a dia dos chineses

Felipe Zmoginski

11/06/2019 10h05


Skyline de Xangai: em 24 anos uma transformação vertiginosa

Não há registro na história recente da humanidade de uma civilização que tenha se transformado tão rapidamente quanto a China. Em 40 anos, o país dos riquixás e de práticas medievais como a atrofia forçada de pés femininos transformou-se no lugar com a maior malha de trens bala, maior rede de internet móvel, maior mercado e-commerce e maior exportador mundial de bens e serviços.

É longa a lista de tecnologias em que a China detém liderança mundial. Quatro delas, no entanto, tiveram maior impacto na cultura, na economia e no comportamento de quem vive nesta porção da Ásia. Abaixo, quatro tecnologias que aceleraram as mudanças no modo de vida local.

Pagamento móvel – O pagamento via QR Code, disponível em aplicativos como WeChat e AliPay, é quase onipresente na China. Das 790 milhões de pessoas conectadas no país, 780 milhões usam alguma solução de pagamento móvel.  Sua disseminação decretou, na prática, o fim de dinheiro de papel e dos cartões de plástico. Há ganhos óbvios com esta tecnologia, como a economia de dinheiro com impressão de notas e com a venda ou aluguel de maquininhas de cartão.

Seus efeitos, no entanto, são mais impressionantes sob a ótima da inclusão digital e bancária. Centenas de milhões de chineses sem acesso a serviços bancários puderam, por meio dos apps de pagamento, acessar serviços digitais, como compras online, financiamentos e uso de bens que requerem um meio de pagamento eletrônico — chamar táxi ou pedir comida por app, por exemplo.  O mercado chinês de pagamento móvel não é apenas o maior do mundo, mas também 80 vezes maior que o segundo colocado, os Estados Unidos.

E-commerce – Embora esta não seja uma "tecnologia" exatamente nova, em nenhum outro lugar do mundo as compras online atingiram o mesmo nível que na China.  Atualmente, 49% de todos os pedidos feitos em serviços de e-commerce do mundo são feitos por lá. Você não leu errado: o número de pedidos feitos na China equivale a quase metade do total de compras online realizadas em todo o planeta.

Contribuem para a forte adesão ao comércio eletrônico a inclusão digital massificada, o sucesso dos pagamentos móveis e a infraestrutura excepcional do país — esse último fator permite, por exemplo, que um produto seja despachado pela manhã de Shenzhen, no sul do país, e a entrega em Beijing, no norte do país, ocorra à tarde.

Um aspecto nem sempre bem avaliado para o sucesso do e-commerce chinês é a cultura. Como as jornadas de trabalho são extenuantes na China, é muito valioso salvar aquele tempo desperdiçado na fila do supermercado. É aí que entram serviços digitais.

Trens bala – Sabemos que a China construiu, em apenas duas décadas, a maior malha de trens de alta velocidade do país. Esta infraestrutura mudou radicalmente as condições de vida da população local, uma vez que o país é também o que mais intensamente viveu processos de urbanização e migração interna em todo o mundo.

Com milhões de pessoas vivendo fora de sua cidade-natal, poder viajar de forma rápida (e econômica) para visitar os pais e parentes tem um efeito importante sobre a sensação de felicidade e satisfação com seu país. Também, é claro, traz ganhos econômicos proporcionados devido ao transporte eficiente de mercadorias e pessoas.

Economia compartilhada – Bicicletas sem estação fixa que podem ser desbloqueadas por um app, aluguel de carro por horas fracionadas, serviço de assinaturas de roupas e até o aluguel de casas divididas, em que se paga só pelo quarto onde vive. O boom de serviços compartilhados na China permitiu que, mesmo em cidades superadensadas e com apartamentos pequenos, como em Beijing e Xangai, todos os cidadãos tivessem acesso a roupas de grife, bicicletas e carros.

Na China, há até serviços de compartilhamento de guarda-chuvas e de power banks, aqueles carregadores portáteis de celular. Na região do planeta com a maior população do mundo, a disseminação do uso compartilhado de bens democratizou o acesso a muitos deles.

Correção: o número de compras online realizadas na China equivale a quase metade do total de compras online realizadas em todo o planeta, e não a metade de tudo o que é feito em outras regiões do planeta, como escrito anteriormente.

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Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.