Topo

Felipe Zmoginski

Conheça as empresas digitais chinesas que valem mais que Facebook e Netflix

Felipe Zmoginski

14/03/2018 04h00

 
Messi garoto-propaganda da Tencent: investimento caro e de retorno controverso

Uma lista das dez maiores empresas de internet do mundo, analisada sob a ótica de valor de mercado, revela um dado pouco conhecido de muitos brasileiros: companhias digitais chinesas são maiores e valem mais que titãs globais como Facebook e Netflix.

Há muitas metodologias diferentes para fazer esta medição. Alguns institutos, por exemplo, classificam a Apple como empresa de internet, embora todos saibam que a companhia criada por Steve Jobs fature muito mais com hardware. Neste post, usamos um ranking elaborado pela empresa nova-iorquina Investopedia, que captou dados públicos das bolsas de valores no dia 16 de fevereiro deste ano.

Sem surpresa, Google e Amazon lideram a lista, com valores superiores a US$ 700 bilhões cada uma. Na terceira posição, aparece a Tencent, fabricante do app WeChat, com incríveis US$ 536 bilhões em valor, à frente dos US$ 521 do Facebook, quarto colocado. Completa a lista de top 5, a plataforma de ecommerce Alibaba.

Em uma lista ampliada, com as 10 maiores empresas de internet, figuram ainda estrelas chinesas como o buscador Baidu e o ecommerce JD. Note que são 4 as empresas chinesas em uma lista 10. E não há nenhuma companhia europeia ou japonesa no Top 10. Os números são acachapantes, mas não param por aí.

Uma análise mais detida revela, ainda, que as companhias chinesas são as que possuem maior mercado potencial a conquistar e, não por acaso, são também as que crescem mais rápido. Se players globais Google, Facebook e Amazon estão perto de seu grau máximo de maturidade, os rivais chineses mal saíram de seus mercados domésticos.  Na conta da Investopedia, por exemplo, não soma valor ao Alibaba sua joia maior, a Ant Financial, misto de meio de pagamentos e banco digital que ainda não realizou sua abertura de capital (IPO, na sigla em inglês). Segundo o Financial Times, a Ant Financial vale algo entre US$ 45 e US$ 50 bilhões, algo como o valor total do Uber, por exemplo.


Jack Ma, fundador do Alibaba, em seu apartamento em Hangzhou nos anos 90: em duas décadas criou um império que não para de crescer

Para ficarmos em poucos exemplos, entre os maiores "unicórnios" do mundo, jargão usado para definir empresas que valem mais de US$ 1 bi e não abriram capital, a presença de companhias chinesas de tech é aterradora.  O app de táxis Didi Chuxing, a fabricante de smartphones Xiaomi e o marketplace de ofertas Meituan são todos avaliados acima de US$ 30 bi. Para efeito de comparação, o valor do Airbnb é estimado em US$ 29 e do Spotify em modestos  US$8 bi, de acordo com o serviço "The Global Unicorn Club".

É bem verdade que, ao contrário das companhias americanas, as empresas chinesas têm muito mais dificuldade em prosperar fora de casa. Enquanto o mundo ouve Beyoncé e sonha em tirar férias na Disney, pouca gente saber dizer onde fica Shenzhen e Hangzhou, cidades-sede de Tencent e Alibaba, respectivamente.  As diferenças culturais entre Ocidente e Oriente bem como a admiração que temos pelos Estados Unidos jogam a favor de Google, Facebook e Amazon.


Sede da Tencent, em Shenzhen: rede social mais popular da China

As companhias chinesas também penam para criar marcas admiradas, tropeçando em esforços caros e mal conduzidos de marketing, além de pagarem o preço de um preconceito construído contra a China nos anos 80, quando o país vivia uma industrialização tardia apoiada na fabricação de produtos de baixa qualidade.  Joga contra os chineses também processos de decisão muito hierarquizados em que "superchefes" concentram quase todo poder decisório, minando a criatividade dos níveis médios e, frequentemente, perdendo o "timing" em momentos de crise ou frente oportunidades que exigem respostas rápidas. A lista de defeitos da cultura corporativa chinesa é longa e inclui a ausência do hábito em se fazer pesquisa de mercado. Na prática, os testes acontecem "em produção", com os produtos rodando, o que obviamente impacta negativamente as marcas.

Recentemente, companhias chinesas em busca de internacionalizar-se optaram por aquisições, como aconteceu com a Didi, que agora controla o app de táxis 99. Compra-se a base de usuários, mas também o expertise em operar localmente.  Registre-se que os chineses só entraram na Organização Mundial de Comércio em 2001 e muitas nações ainda não os reconhecem como economia de mercado.  Se em tão pouco tempo criaram empresas transnacionais tão poderosas, não é exagerado prever que vão ultrapassar seus obstáculos nos próximos anos.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.