Topo

Felipe Zmoginski

Fabricante de iPhones quer tornar-se empresa de inteligência artificial

Felipe Zmoginski

26/06/2018 04h00


Funcionários da Foxconn em Shenzhen: fabricação para Apple e Amazon

A máxima "Designed in California, Assembled in China" definiu, por muitos anos, a equação em que os Estados Unidos ofereciam o cérebro e os chineses os músculos para fazer girar a roda da indústria de tecnologia no mundo.  Há mais de uma década, companhias como Alibaba, Tencent, Mobike e Xiaomi rasgaram esta equação produzindo, elas mesmas, seus produtos e modelos de negócios próprios. Uma rápida visita ao site da OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual) revela que, nos últimos três anos, empresas e universidades chinesas registraram mais patentes que seus competidores americanos.

Agora, chegou a vez da mais simbólica das indústrias chinesas, a Foxconn, anunciar sua mudança de rumos.  Foxconn é o nome da companhia que produz 9 em cada 10 iPhones vendidos. É também a principal fabricante dos produtos que levam as logomarcas da HP, Amazon e Cisco. Juntas, as 4 empresas americanas respondem por 60% da produção da Foxconn, portanto, um ícone do "assembled in China".

Com o sacrifício de algumas dezenas de vidas (muitos de seus funcionários se suicidaram nos últimos anos, vítimas de más condições de trabalho), a Foxconn tornou-se um titã multibilionário, que turbinou os lucros de outros gigantes americanos, oferecendo-lhes produção eficiente, pontual e de baixo custo.  Estima-se, por exemplo, que a montagem de um iPhone nas fábricas de Shenzhen, por exemplo, custe apenas 7 dólares por unidade à Apple, um custo imbatível.


Braços robóticos já encaixotam produção: objetivo é automatizar mais

Há uma semana, porém, o fundador da Foxconn, Terry Goe, reuniu em uma festa surpresa 100 de seus funcionários nascidos em 9 de julho de 1988, data de fundação da companhia sino-taiwanesa. Junto ao bolo de "aniversário",  Goe anunciou o ambicioso plano de sua companhia: tornar-se uma desenvolvedora de soluções de robótica e inteligência artificial.

Há dois anos, Goe é acionista da Face++, companhia de reconhecimento facial com contratos com o governo chinês para soluções de segurança pública. Quem comete um crime, tem o rosto escaneado e seu perfil passa ser buscado em câmeras de vigilância espalhadas por todo o país. É impossível escapar impune do Big Brother chinês que, entre outras coisas, construiu uma sociedade radicalmente segura.

Goe agora anunciou investimentos de US$ 340 milhões para a contratação de talentos em inteligência artificial. A companhia quer automatizar processos considerados "perigosos e enfadonhos" e criar, ela própria, robôs capazes de montar impressoras, smartphones e roteadores, encaixando telas LCD, testando GPS e medindo a frequência das baterias.

De acordo com o Goe, o objetivo é que, em cinco anos, as fabricas da companhia estejam remodeladas para operar de forma automatizada.  Durante o anúncio, ninguém ousou perguntar ao chefão da Foxconn o que acontecerá com o emprego de um milhão de funcionários que pagam suas contas realizando tarefas "perigosas e enfadonhas" para montar iPhones, Kindles e impressoras HP.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.