Xiaomi falha em IPO e reforça dúvida sobre força chinesa
Oferta de ações em Hong Kong: captação abaixo do esperado
Quinta maior fabricante global de smartphones e uma das marcas chinesas mais admiradas no mundo, a Xiaomi debutou, esta semana, na bolsa de valores de Hong Kong, onde finalmente abriu seu capital à investidores particulares.
Há uma semana, falava-se em projetar o valor de mercado da companhia para além dos US$ 100 bilhões, mas a venda real ficou bem abaixo do esperado e o valor de mercado no "day after" da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) é quase metade das projeções mais otimistas e está em US$ 54 bilhões. No primeiro dia de pregão, os papéis da Xiaomi chegaram a cair 6%.
Lei Jun, o fundador da companhia, contemporizou, alegando que o momento da economia global não é dos melhores e lembrou da guerra comercial que China e Estados Unidos travam desde a ascensão de Donald Trump ao poder, com prejuízos evidentes às exportações chinesas.
Os argumentos de Jun são verdadeiros, mas não explicam totalmente as dificuldades da Xiaomi no mercado de ações, a começar pelo fato de a companhia ainda não comercializar seus produtos nos Estados Unidos, logo, não sofrer uma perda real com o jogo duro de Trump.
Um fator não analisado é recorrente megalomania das empresas chinesas, que projetam números frequentemente exagerados, com o intuito de impressionar o resto do mundo. Se a expectativa pelo IPO, fosse mais realista, não haveria o por quê reclamar do desempenho atual. Afinal, um valor de mercado de US$ 54 bilhões só é decepcionante se sua expectativa está muito além disso.
Loja de apps MiStore: pouco relevante em países em que Google Play lidera
O modelo de negócios da empresa, de vender dispositivos com lucro baixo (em média 5%) e rentabilizar seus gadgets com serviços digitais é outro ponto de interrogação. Na China, onde não existe Netflix e Google Play, a MiStore, loja de aplicativos da Xiaomi, nada de braçada na venda destes serviços, mas fora do mercado doméstico é improvável que o sucesso de repita.
De acordo com números divulgados pela própria Xiaomi, 14% de suas vendas de aparelhos, que incluem TVs, geladeiras e purificadores de ar, acontecem fora do mercado doméstico, porém 92% dos lucros ainda são auferidos na China. Com exceção da Índia, onde a marca é um sucesso de vendas, há poucos novos mercados em que a Xiaomi se destaca. Na Indonésia, por exemplo, não há números confiáveis sobre as vendas da companhia e, no Brasil, a empresa deixou de operar localmente, após uma curta tentativa de fabricação local de seus elogiados dispositivos.
O tropeço em bolsa da Xiaomi é revelador de uma dificuldade recorrente das companhias chinesas de tecnologia, por mais admiradas e inovadoras que sejam, todas elas tem enfrentado enormes dificuldades para tornarem-se relevantes fora da China. Não há notícia ainda de uma Samsung ou Sony chinesas, por exemplo, que além de fortes dentro de casa, tenham conseguido tornarem-se marcas globais relevantes.
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