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Felipe Zmoginski

Líderes em reconhecimento facial devem captar US$ 1,6 bi na China

Felipe Zmoginski

24/07/2018 04h00


Sede a Megvii Face Plus Plus: ninguém precisa de crachá para acessar a empresa

As duas empresas mais badaladas da China, quando o tema é reconhecimento facial, estão próximas de anunciar a captação de investimentos na ordem de US$ 1,6 bilhão, o que é uma montanha de dinheiro para startups que, apesar de seu potencial, sequer atingiram seu ponto de equilíbrio entre despesas e receitas.

A situação mais avançada é da Megvii Face Plus Plus, empresa que oferece serviços de inteligência artificial para clientes como Lenovo e Ant Financial, a fintech do grupo Alibaba.  A Megvii negocia a captação de US$ 600  milhões do grupo Alibaba e do fundo de investimentos Boyu Capital. Como se sabe, a taxa de juros é negativa na China (os bancos pagam menos do que a inflação), o que aumenta a disposição de agentes privados em emprestar dinheiro a iniciativas potencialmente lucrativas, ainda que os riscos sejam razoáveis.

As soluções da Face Plus Plus permitem, por exemplo, que um usuário ligue a câmera de seu celular para registrar seu rosto ao fazer uma compra online, evitando que um fraudador que tenha seu cartão de crédito em mãos faça compras em seu nome.  A empresa também opera em parceria com lojas de varejo automatizadas. Você entra em um supermercado, compra o que quiser e, ao sair, uma câmera reconhecerá sua identidade e debitará o montante de sua carteira virtual.  De acordo com a Megvii, que não confirma a negociação com o grupo Alibaba, novas captações de recursos terão como destino, justamente, criar inovações para o varejo. Há ainda aplicações para contar quantas horas um operário trabalha em sua mesa ou qual aluno está ou não em sala de aula, dispensando a "lista de chamada".


Cidadãos "vigiados" pela Sensetime em centro de compras: o fim do anonimato

Já a Sensetime negocia com o banco japonês Softbank,  o  maior investidor estrangeiro na China,  recursos que podem superar US$ 1 bilhão, para criar tecnologias que automatizem, por exemplo, o controle de fluxo de pessoas em hotéis, aeroportos e universidades.  Segundo a Sensetime, um projeto em testes permitirá, por exemplo, que se elimine o check-in na recepção de hotéis. Uma vez feita a reserva online, o usuário poderá ir diretamente a seu quarto, em sua cidade destino. A porta se abrirá apenas reconhecendo seu rosto como o verdadeiro "inquilino" daquele quarto.  A tecnologia terá uso especialmente importante no Japão, onde há carência de mão de obra para atividades como "recepção", por exemplo, o que indica o potencial "exportador" da Sensetime.

Ambas as empresas possuem colaboração estreita com o governo chinês para aplicações de segurança pública. Criminosos procurados que tenham seu rosto digitalizado já são "perseguidos" eletronicamente por câmeras de estações de metrô, shopping centers ou de vigilância de ruas.  A China, que possui índices de homicídio mais baixos que os da Suíça, por exemplo, pode ser considerada o país mais vigiado do mundo. O tema é controverso, em especial, se levarmos em conta a baixa participação da população chinesa em decisões como estas, que implicam na vigilância de seu deslocamento pelas cidades.

Além dos aspectos éticos, constitui um desafio técnico para Sensetime e Face Plus Plus  o reconhecimento de rostos estrangeiros. Seus algoritmos foram tão aperfeiçoados para as características biológicas dos asiáticos que o índice de erros ainda é grande  para analisar, por exemplo, pessoas de etnia branca ou negra. Pesquisadores estimam que tais obstáculos só serão superados com a adição de bancos de dados de rostos brancos e negros para análise das máquinas chinesas, o que depende menos de recursos financeiros e mais da autorização de governos com grandes populações brancas e negras, como o Brasil ou os Estados Unidos, para a coleta e análise de rostos.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.