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Felipe Zmoginski

No fechado mercado chinês, robô da Microsoft conversa na língua local

Felipe Zmoginski

31/07/2018 04h00


Microsoft mostra que não é impossível para um não-chinês ter sucesso na China

Apesar do invejável tamanho de seu mercado, a China é uma espécie de cemitério para as grandes corporações não-chinesas de tecnologia.  Google e Uber, por exemplo, fracassaram por lá, por deficiências tecnológicas seguramente, mas também por não possuírem as conexões políticas adequadas para prosperar. O Facebook, então, sequer conseguiu uma brecha para explorar o multibilionário mercado local.

Esta semana, porém, a Microsoft apresentou uma nova versão de seu assistente pessoal Xiaoce que obtém sucesso em um campo em que, até agora, apenas titãs locais conseguiam progressos, a construção de um assistente virtual capaz de conversar, com fluência, no idioma local, o chinês padrão, também chamado de "putonghua".

Ao contrário do que ocorre em muitas conversas com a Siri ou assistentes para Android, os diálogos realizados pelo Xiaoce são fluídos, sem aquele efeito "walkie talkie", em que o usuário fala, aguarda o outro lado processar a mensagem e depois ouve a resposta. É um feito e tanto para a Microsoft, que há tempos não associa seu nome aos avanços mais "descolados" do mundo da tecnologia.  Mais do que isso, demonstra uma capacidade rara em empresas ocidentais, a de adaptar-se à ascensão chinesa.

Carro de luxo da Dongfeng Motor: sistema do Baidu permite operá-lo por comando de voz

Entre os players locais, apenas os titãs Baidu e Tencent podem ser apresentados como desenvolvedores de soluções "fluentes" na interpretação de linguagem natural em chinês. O Baidu há alguns anos opera o assistente "Duer", com o qual se pode conversar para fazer buscas na internet, pesquisar onde fica um restaurante próximo no serviço de mapas da empresa ou, no caso dos carros equipados com a plataforma de automação da empresa, pedir que o assistente ligue o som ou abra os vidros do automóvel.

Mensagem em inglês é muito clara: ajudinha custará uma taxa de 10%

Controladora do app mais popular do país, o WeChat, a Tencent está (mais uma vez) tirando proveito da força de seus 700 milhões de usuários chineses para oferecermos serviços da WeSecretary. Por mensagens de voz, pelo aplicativo, você pede que sua assistente reserve um horário no salão de belezas, uma mesa no restaurante ou solicite entrega de comida. Por quaisquer destes serviços, pagos sempre com a plataforma da empresa WePay, a secretária virtual adiciona uma "taxa de serviço", que pode custar até 10% do valor contratado.

Serviços de linguagem, para serem eficientes, precisam coletar grande volume de informações, processá-los e encontrar padrões que possam ser compreendidos pelas máquinas, o que torna o desenvolvimento desta tecnologia, atualmente, apenas ao alcance de grandes companhias.  Que a Microsoft tenha conseguido ouvir e processar as conversas de milhões de chineses é um feito. Resta saber que espaço encontrará para viabilizar esta tecnologia comercialmente, sobretudo em tempos de "guerra comercial" entre as duas nações.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.