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Felipe Zmoginski

Companhias chinesas propõem um robô por lar

Felipe Zmoginski

07/08/2018 04h00


Robôs da UBTech já podem ser usados no varejo

As companhias chinesas não são as pioneiras no desenvolvimento de robôs humanoides, capazes de nos auxiliar em tarefas do dia a dia, como cozinhar, ir às compras ou trabalhar. No entanto, como vem se tornando recorrente no desenvolvimento recente chinês, as empresas locais são ágeis em tirar a diferença em termos tecnológicos das nações desenvolvidas e superá-las em aspectos como execução e massificação de produção.

Não à toa, a Huawei já vende mais smartphones que a Apple e a BYD consolida-se entre os cinco maiores fabricantes de carros elétricos do mundo, mesmo atuando em um setor muito tradicional, a centenária indústria automobilística.  Agora, empresas como UBTech e Hanson Robotics avançam em um setor originalmente dominado por japoneses, como a Honda, criadora do Asimo, e americanos, que espantam o mundo com a engenhosidade das máquinas da Boston Dynamics (BD).

Como se sabe, as inovações da BD surgiram, originalmente, de pesquisas militares americanas e, por isso, são excelentes armas de guerra, mas pouco adaptadas para atender às necessidades, por exemplo, de uma rede de varejo em busca de um atendente robótico ou de um idoso com problemas de mobilidade. O mesmo vale para o Asimo, que após 18 anos de sua invenção, está saindo de linha sem nunca ter se tornado um produto comercial. Sim, a Honda anunciou, em junho deste ano, que por questões financeiras, descontinuará o desenvolvimento de seu mais famoso robô.

Já as invenções da UBTech, que podem ser compradas por preços a partir US$ 500 nos Estados Unidos, possuem o mérito de massificar a robótica. Segundo a companhia, sediada em Shenzhen, sul da China, sua missão é colocar um robô em cada casa e em cada empresa, mais ou menos como previu Bill Gates, em 1972, ao vaticinar que cada um de nós teria seu próprio PC. Fundada há 6 anos, a empresa já é um "unicórnio" chinês, nome que se dá às startups que superam US$ 1 bilhão em valor de mercado.

Suas soluções incluem robôs que atendem consumidores nos varejos, prestam informações em shoppings, feiras e eventos ou estimulam crianças a estudar. O próximo passo, afirmam os técnicos da empresa, é refinar assistentes pessoais, capazes de ir buscar água, acompanhar um idoso ao banheiro ou mesmo realizar tarefas para as quais estamos ocupados demais, como ir ao mercado fazer as compras do mês. Neste ponto, a diferença chinesa para seus pares estrangeiras é evidente: foco em funcionalidade com aplicações comerciais.


Robô Sophia: humanoide exibe expressões faciais como os humanos

A força da China no desenvolvimento de robôs percebe-se, ainda, com a opção do ex-designer da Disney e fundador da companhia de robôs que leva seu sobrenome, David Hanson, em sediar seu centro de pesquisa e fabricação em Hong Kong. A Hanson é a desenvolvedora, por exemplo, de Sophia, considerada o robô mais avançado em emular as mesmas expressões dos humanos.


Robôs da UBTech fazem dança sincronizada na TV chinesa

A decisão de Hanson de ir à China tem explicações bem claras: acesso rápido a componentes eletrônicos sofisticados, relativa facilidade em encontrar engenheiros qualificados e acesso facilitado à financiamento, além de um mercado consumidor ávido por novidades. É como ter água, luz e solo adequados à disposição. Se é difícil prever o que os robôs farão por nós nos próximos dez anos, já não é tão difícil prever de que parte do mundo eles virão.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.