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Felipe Zmoginski

Após eliminar dinheiro de papel, China testa acabar com documentos físicos

Felipe Zmoginski

22/01/2019 04h02



AliPay vos declara marido e mulher: documentos de papel vão sumir

Há tempos não é novidade que, na China, as notas de dinheiro tornaram-se item de museu. Literalmente. Em Shenzhen, sul do país, o museu de design da cidade exibe máquinas de ATM como relíquias de uma época em que se comprava produtos… com papel-moeda. Liderados por Alibaba e Tencent, desenvolvedores do AliPay e WeChat Pay, respectivamente, o país que inventou o dinheiro de papel no século 10 o substituiu quase que totalmente pelo dinheiro digital. E-wallets instaladas nos apps do Alibaba e Tencent servem para pagar contas, fazer transferências para amigos e até para dar esmolas a pedintes nas ruas.

O mesmo poderá valer para documentos físicos em breve. A partir deste mês, moradores da província de Jiangxi, no Sudeste do país, poderão se casar usando o aplicativo AliPay. Não é o casamento mais romântico do mundo, mas a inovação busca desburocratizar o dia-a-dia de jovens casais que precisam formalizar sua união para pedir um financiamento, assinar um plano de saúde familiar, alugar ou comprar uma casa.

Dentro do app Alipay, há um mini aplicativo chamado "City Services" que, aos poucos, vem integrando serviços públicos, como carteira de motorista digital, passe de ônibus, cadastro dos filhos em escola pública e, agora, casamento. Além da senha dos noivos, o app exige reconhecimento facial como forma de validar a identidade da nova família.


Na fronteira com Hong Kong, passaporte será substituído por um app

O casamento eletrônico é só um item da miríade de documentos que estão deixando de existir, no formato papel, na China.  Em Zhejiang, província onde fica a sede do grupo Alibaba, por exemplo, é possível gerar um "ID" digital, ou seja, um RG que fica embutido no cartão SIM do smartphone. Na prática, este "RG eletrônico" serve para dar entrada em hospitais, identificar-se em prédios comerciais e fazer o check-in para embarcar em trens de longa distância. Ou seja, substitui totalmente o RG de papel.

Na sensível fronteira entre Hong Kong (área livre do controle de Pequim) e a "China continental", por exemplo, um ID eletrônico da Tencent, embarcado dentro do aplicativo WeChat, substituirá o passaporte para chineses que fazem a imigração ao entrar ou sair da China. Em função da maior necessidade de proteger a fronteira, o "Passaporte Eletrônico via WeChat" só funcionará, inicialmente, em alguns modelos de smartphone da Huawei, em que há um hardware único para cada cidadão.

Mais que uma curiosidade hi-tech, no entanto, o fenômeno de casamentos e imigração via controle por app indica que a China busca repetir, com os documentos de papel, o bem-sucedido esforço que fez ao matar o dinheiro de papel.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.