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Felipe Zmoginski

Antes restrito, pagamento mobile chinês bate recordes fora do país

Felipe Zmoginski

12/02/2019 04h06


Lojas em Paris contratam vendedoras nativas e já aceitam Ali Pay

Quem conhece a China sabe que lá é servida água quente nas refeições, que os sapatos são tirados quando se entra na casa de alguém e, claro, compras são pagas com mobile payment. Nesta semana, quando os chineses retornam ao trabalho após o mais importante feriado do calendário nacional, o ano novo chinês, um relatório publicado por Alibaba e Tencent, empresas que controlam os meios de pagamento AliPay e WePay, respectivamente, anunciaram que houve um recorde de gastos de chineses no exterior usando seus serviços de pagamentos móveis.

De acordo com o estudo, entre os dias 5 e 9 de fevereiro, quando não houve expediente na maior parte das empresas chinesas e muitos cidadãos viajaram para fora do país, registraram-se pagamentos equivalentes a R$ 660 milhões nas duas plataformas fora do território nacional. O número é o maior já registrado em espaço tão curto de tempo e mostra que cada vez mais lojas, hotéis e restaurantes no mundo adotaram tais serviços como meio de atrair mais consumidores chineses.

As localidades onde mais se aceitam os pagamentos mobile da China são Bangkoc, na Tailândia, tradicional reduto de turistas chineses, além de Macau e Hong Kong, estes últimos em função da proximidade com as grandes cidades chinesas.

Neste ano, porém, a cidade de Paris, na França, surgiu como um dos cinco destinos em que mais compras foram pagas por meio do AliPay.  As lojas da grife Louis Vuitton, que passaram a última semana apinhada de chineses, foram um dos locais que adotaram esse modo de pagamento.


Idosas conectatadas: elas também abandonaram o dinheiro de papel

O episódio é sintomático por indicar como as ferramentas de pagamento móvel da China vão ganhando adeptos fora do seu mercado de origem, inicialmente impulsionadas pelos turistas chineses. Em cidades como São Paulo, aliás, é possível jantar em restaurantes de comida típica chinesa e pagar usando WeChat.

O mesmo estudo mostra que, dentro da China, as facilidades do mobile payment estão conquistando os últimos consumidores que resistiram à inovação: os idosos que vivem em pequenos e médios municípios no interior do país.

É tradição, no país, presentar amigos, familiares e vizinhos com envelopes vermelhos recheados de dinheiro em datas como o ano novo. Tais envelopes são chamados de Hong Bao (红包), literalmente "embrulhos vermelhos". Os dados de 2019 indicam que mais de 823 milhões de chineses trocaram a versão digital do Hong Bao entre si, substituindo os envelopes de papel. Entre outras facilidades, o envio eletrônico de dinheiro permite enviar o "presente" a amigos que morem longe, sem a necessidade de encontrá-los pessoalmente.

A análise afirma que, em 2019, o envio de Hong Bao eletrônico foi feito por mais de 80% dos chineses com idade superior a 65 anos que vivem em localidades chamadas Tier 3 e Tier 4, nome técnico dados aos vilarejos e cidades pequenas. Sob qualquer ótica que se observe, por tanto, o pagamento móvel chinês não para de ganhar mercado.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.