Por que a China endurecerá as regras para fintechs? Para crescer menos
A civilização que inventou o dinheiro de papel no século 10 tornou-se, na última década, a primeira a virtualmente aboli-lo. Com exceção dos estrangeiros visitam o país e têm dificuldades em criar carteiras digitais no WeChat e Alipay, toda a população local usa os métodos de pagamento mobile como forma preferencial de pagar a conta do restaurante, fazer uma compra online ou mesmo enviar um presente aos amigos.
O uso de carteiras digitais é praticamente onipresente entre os 720 milhões de usuários de smartphones no país, fenômeno que permitiu, entre outras coisas, incluir no setor de compras online centenas de milhões de chineses não-bancarizados.
A vertiginosa ascensão das fintechs chinesas transformou o país no maior mercado mundial de mobile payment, anos-luz a frente do segundo colocado, os Estados Unidos. Estima-se que, na China, o valor transacionado, por ano, em serviços de pagamento móvel veja 80 vezes superior ao segundo país que mais usa tal tecnologia, justamente o arquirrival Estados Unidos.
Parte do sucesso estrondoso dos pagamentos móveis na China deveu-se ao fato de agentes privados investirem livremente para explorá-lo, oferecendo generosos descontos e devolução de parte do dinheiro gasto (cash back) para quem adotasse soluções mobile. A autoridade monetária chinesa fez vista grossa para os excessos das fintechs locais, que agem quase livres de regulação. A boa vontade de Beijing devia-se ao desejo de fomentar soluções inovadoras que ajudassem a dinamizar a economia, ainda que tais práticas oferecessem riscos ao já opaco sistema financeiro local.
Esta semana, no entanto, Beijing avisou que a farra está perto do fim. Em nota enxuta, o Banco do Povo da China, o equivalente ao nosso Banco Central, anunciou que as regras para o funcionamento de fintechs no país ficarão mais rigorosas, sem especificar exatamente o que mudará.
A aposta dos observadores de China é que se coloquem restrições à concessão de crédito por ferramentas de mobile payment, que ampliam de forma pouco ortodoxa a base monetária chinesa.
Um exemplo sintomático da nova política chinesa para fintechs são os maus resultados financeiros da ex-estrela dos empréstimos mobile, a startup Dianrong.
"Algumas pessoas nos perguntam porque deixamos de crescer. A resposta é que fomos orientados a não crescer muito", declarou Guo Yuhang, CEO da Dianrong, em reunião com acionistas, em Cingapura.
Conhecendo a China, não é difícil saber a quem Yuhang se referia, aos burocratas de Beijing, evidentemente.
A Dianrong fez fama (e fortuna) ao criar um sistema mobile P2P, em que pessoas com mais dinheiro na carteira digital podem fazer empréstimos, a juros, a quem está com pouco dinheiro na e-wallet. A solução é inventiva, mas seu crescimento avassalador preocupa o Banco do Povo da China.
Bem, para qualquer analista atento à China, era evidente que o momento da regulação chegaria. Melhor agora que depois de um crash.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.