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Felipe Zmoginski

Tencent faz maior teste de blockchain do mundo com clone de Pokémon Go

Felipe Zmoginski

21/05/2019 04h16


CriptoKittie permite transacionar itens baseado em tecnologia blockchain

A Tencent, maior empresa de internet da China e com valor de mercado superior ao do Facebook, está realizando um teste com tecnologia blockchain que já supera 300 milhões de usuários. O número torna a experiência o maior caso de uso de uma criptomoeda feita por um único emissor do mundo.

Há menos de um mês, a companhia chinesa estreou seu game "Let's Hunt Monters", jogo mobile muito similar ao sucesso mundial da Nintendo Pokémon Go. Na China, o game japonês é proibido por supostamente oferecer riscos à segurança nacional, como permitir o mapeamento do território chinês por empresas estrangeiras e basear sua geolocalização no Google Maps, serviço inoperante no país asiático.

A ausência do competidor estrangeiro colaborou para que  Let's Hunt se tornasse um sucesso estrondoso no país. O app foi o mais baixados das lojas de aplicativos chinesas ao longo do mês de abril e, mesmo em maio, segue na lista "top 5" dos downloads na China. De acordo com a consultoria App Annie, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas tenham o software instalado em seus smartphones.

Como ocorre em Pokémon Go, a graça do game é "caçar" personagens virtuais por praças, ruas e parques. Na versão da Tencent, no entanto, é possível comprar online, com dinheiro de verdade, gatinhos que auxiliam na caçada a itens raros.

A venda de bens virtuais em jogos não é novidade. O que torna o caso relevante é o fato de a Tencent Financial Tech, divisão equivalente a Ant Financial, do grupo Alibaba, usar tecnologia blockchain para transacionar os bens. A empresa até criou um mercado para compra dos gatinhos, o CriptoKittie e publicou um White Paper de 10 páginas regulando a comercialização dos felinos virtuais.

Quem acompanha o mercado de blockchain, sabe que White Papers são documentos formais que regulam a emissão, compra e venda de criptoativos e são usados por corporações no mundo todo e muitas vezes como "ações" em uma bolsa de valores, permitindo altos ganhos a quem compra um bem na baixa e o revende na alta.


Caça aos monstros: febre mobile turbina mercado de cripto ativos

No caso da CriptoKittie, a Tencent determina que uma vez comprado o bem ele não pode ser revendido por dinheiro, em uma tentativa, ao menos formal, de evitar que o jogo funcione como uma bolsa de valores virtual. O game permite, no entanto, que usuários "presenteiem" uns aos outros com tais bens, o que na prática abriu a caixa de pandora para um mercado paralelo de revenda de gatinhos virtuais. As trocas ocorrem com pagamentos via WeChat, a rede social mais popular da China, que também funciona como carteira virtual amplamente aceita no varejo chinês e no consumo de serviços.

Para muitos analistas, o inocente game chinês é, na verdade, uma teste de massa para a tecnologia blockchain, que permitirá a Tencent educar seus usuários sobre o funcionamento, regras e segurança desta tecnologia, que poderia ser usada futuramente em outros serviços, como transações financeiras, assinaturas de contrato ou emissão de dinheiro virtual, este último ainda um item proibido na China.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.