Busca por selfie perfeita cria unicórnio de US$ 4 bi na China
Desenvolvedores em Shenzhen: uma indústria a serviço da beleza virtual
Ficar bonito na foto é um desejo universal. Na China, no entanto, a obsessão por uma selfie perfeita movimentou, nos últimos anos, diversas cadeias industriais para permitir o registro de um autorretrato que revele alguém mais bonito do que, de fato, é.
Um exemplo simbólico é o uso, nativo, de filtros de embelezamento nos apps de fotos dos smartphones chineses como Xiaomi, Vivo, Huawei e Oppo. Um relatório da Consultoria Gartner, em 2016, avaliou que a ausência de tais filtros era um fator-chave para a perda de participação de mercado de gigantes como Apple e Samsung na China. No beautification, no deal.
Na esteira dos smartphones com filtros e poderosas câmeras frontais, que fazem sucesso também no Ocidente, surgiram desenvolvedores de apps que fazem um pouco mais do que deixar sua foto cool ou vintage. Apps como o da chinesa Meitu, empresa que visitei este mês em Shenzhen, permitem clarear o tom de pele, remover rugas, deixar os cabelos com aparência mais volumosa, os olhos mais brilhantes, o queixo mais fino. Enfim, tudo que a ginástica, os cosméticos e as cirurgias plásticas prometem em um só clique no smartphone.
Na China, a febre de fotos retocadas é tamanha que apps de namoro, como o TamTam, software que pode ser comparado ao Tinder, adicionou uma camada de verificação de imagens em sua plataforma. Além de subir sua foto preferida para o perfil, o app pede que o usuário tire um retrato com sua câmera, para compará-la com a foto enviada.
Para muitos analistas financeiros, aplicativos de maquiagem virtual, como o MakeupPlus e editores de selfie, como o AirBrush, seriam uma modinha capaz de movimentar muitos usuários, mas não de criar uma empresa sustentável e lucrativa. Para desmentir as projeções, a Meitu, desenvolvedora dos aplicativos acima citados, não só superou o efeito viral da estreia de seus apps como, ao fazer seu IPO (abertura de capital) na bolsa de Hong Kong, superou a marca de US$ 4 bilhões em valor de mercado. Nos últimos meses, na esteira da guerra comercial com os Estados Unidos, viu seu valor encolher para US$ 1,5 bilhão, o que ainda a mantém no patamar de unicórnio.
Antes e depois: quem não deseja parecer mais bonito?
De acordo com a empresa, sua família de editores de imagem e embelezamento soma 950 milhões de usuários, 500 milhões deles fora da China, espalhados por 39 países, entre eles o Brasil. O modelo de negócios da Meitu prevê a geração de receita via publicidade dentro do aplicativo e pela assinatura de recursos especiais, o consagrado modelo freemium.
O sucesso doméstico da Meitu permitiu, ainda, o desenvolvimento de uma linha proprietária de hardware, como os smartphones otimizados para selfie. Pude testar o Meitu T8, um robusto dispositivo com 128 GB de armazenamento, processador e memória RAM alinhados com celulares topo de linha. O diferencial do aparelho, que na China é vendido por algo equivalente a R$ 2 mil, é sua poderosa câmera dupla de 12 MP com estabilização óptica e aplicações de inteligência artificial para registrar selfies com maior qualidade.
Entre os dispositivos da linha de hardware da Meitu estão ainda scanners domésticos para pele. Segundo o fabricante, os devices permitem avaliar se a pele está ressecada, se tomou sol demais e, em alguns casos, até dar alertas de risco de câncer, ao analisar a evolução de pintas e manchas na pele humana. No mercado doméstico, a linha de hardware já supera, em receita, a importância dos apps de edição de fotos.
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