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Felipe Zmoginski

Na China, até marcas menores têm mais recursos que iPhone 11

Felipe Zmoginski

18/09/2019 04h00

Modelo da Vivo Nex 3 já saiu com 5G antes do iPhone 11. Crédito: Divulgação

Quando Steve Jobs assombrou o mundo com o primeiro modelo do iPhone, em 2007, o dispositivo não suportava redes 3G. Só com um ano de atraso o icônico gadget da Apple passou a suportar um tipo de conexão que, na época, já era comum aos aparelhos topo de linha da Nokia e Samsung.

Mais de uma década após este episódio, o objeto de desejo que causa filas nas lojas da Apple a cada lançamento segue retardatário na adoção de várias novas tecnologias. Agora, porém, perdendo não só para rivais renomados, como a Samsung, mas para desafiantes até pouco tempo sem relevância no mercado de smartphones, como as marcas chinesas Huawei, Xiaomi, ZTE, Oppo e Vivo. Todas estas, por exemplo, já têm conexão 5G, item inexistente no novo iPhone.

Na última semana, a imagem abaixo, por exemplo, viralizou. Ela mostra que o  Mate 20 Pro, da Huawei, lançado há quase um ano, tem tela com melhor resolução, câmera mais potente, é mais leve e, claro, custa mais barato que o iPhone 11, que ainda nem chegou ao mercado. Alguns recursos do novíssimo iPhone, como a possibilidade de fazer fotos com efeito grande angular (permite colocar mais pessoas no enquadramento), são uma tecnologia nativa de dispositivos chineses há mais de dois anos.


A vantagem tecnológica da China, no entanto, não se dá apenas na qualidade dos aparelhos que fabrica. No país, as redes 5G já estão disponíveis para 167 milhões de pessoas, cobrindo 12 grandes cidades do país, entre elas Xangai e Guangzhou, de acordo com relatório publicado em junho pela consultoria Abacus.

Segundo estudo do IDC, só nos primeiros oito meses de 2019, 15 milhões de unidades de smartphones 5G foram vendidos na China. Em 2020, este número deve chegar a 57 milhões de peças. O país é também o maior detentor de patentes de tecnologias 5G, logo à frente de sul-coreanos, norte-americanos e japoneses.

Tem poder simbólico o fato de a Vivo (não confundir com a marca do grupo espanhol Telefônica) lançar, nesta semana, seu modelo Nex 3, com conectividade 5G. Na China, sabe-se que a Vivo está atrasada na corrida tecnológica, bem atrás de players como Xiaomi, Oppo, Huawei e até da estatal ZTE. Mesmo assim, no item conectividade, é mais avançada que o iPhone 11.

Ok, eu entendo. A Apple é charmosa, seu design é lindo e seus produtos possuem uma aura de inovação incomparável. Neste ponto, sejamos francos, os chineses seguem bem atrás dos norte-americanos, que sabem construir marcas e fazer marketing muito melhor que os rivais do Oriente.

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.