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Felipe Zmoginski

Como a poluidora China criou a maior frota de carros elétricos do mundo

Felipe Zmoginski

09/10/2019 04h00


Carregadores para todos: carro elétrico não é exótico na China

Por décadas acusada de ser um poluidor impiedoso, a China é, hoje o país que mais produz energias renováveis e a nação que lidera a substituição das frotas de carros movidos a gasolina e diesel por veículos elétricos.

A maior fabricante mundial de veículos movidos a esta energia, por exemplo, é a chinesa BYD, responsável por realizar a utopia perseguida por muitas metrópoles no mundo, a de substituir toda a frota de ônibus urbanos e táxis movidos a combustíveis fósseis por veículos elétricos. Em algumas paradas de ônibus, o piso sobre o qual estaciona o coletivo é capaz de recarregar a bateria do veículo, em um engenhoso processo que permite uma espécie de "recarga on the road".

Há uma década, quando o céu de Pequim era escuro como noite, a venda de veículos do tipo ocorria graças a generosos subsídios. Hoje, no entanto, o processo é inverso. Não há vantagens fiscais na fabricação dos carros elétricos, mas emplacar um veículo a gasolina está ficando progressivamente mais caro nas cidades chinesas, o que, na prática, empurra muitos consumidores para a matriz limpa.

Nesta semana, a Xpeng Motors, outro player chinês de carros elétricos, anunciou investimentos na TELD, maior empresa local de estação de recargas. O investimento permitirá levar a mais 30 cidades pontos públicos de acesso aos "superchargers", equipamentos capazes de dar carga de 80% em um automóvel (o suficiente para eles rodarem por 200 quilômetros) em apenas 50 minutos.  É o tempo de almoçar, por exemplo.

A expansão das estações públicas de recarregamento, que são opções às recargas noturnas que os proprietários de carros elétricos realizam em suas casas, contribuem para maior adoção deste tipo de veículo. Em muitas cidades chinesas, o maior investimento para ter um carro não é a compra do veículo em si, mas a aquisição de uma licença para emplacá-lo.

A lógica local é tributar o uso e propriedade dos carros, incentivando a população a usar alternativas públicas de transporte. Exceção é feita aos carros elétricos, como os BYD, Xpeng ou os estilosos NIO, espécie de versão chinesa da Tesla.


Luxuosos e descolados: os Nio só se movem com energia elétrica

De acordo com a Aliança Chinesa para a Promoção de Veículos movidos a energias renováveis, os investimentos das empresas privadas acima já tornam, com larga vantagem, a China o país com maior infraestrutura para carros elétricos, bem à frente do segundo e terceiro colocados, Estados Unidos e Japão.

Não à toa, soluções de compartilhamento de soluções de transporte, lideradas pela Didi, que no Brasil controla a 99, são super populares no país, como bike sharing, eletric-bike sharing ou o clássico carro compartilhado por aplicativo. Recentemente, as grandes cidades chinesas como Pequim, Xangai e Shenzhen, vivem um bom também de compartilhamento de automóveis, graças a sérvios como o GoFun, um app que permite desbloquear um carro estacionado na rua e usá-lo como usamos uma patinete ou uma bicicleta. Paga-se por hora.

A solução busca atender aqueles  usuários que se viram bem com metrô e ônibus no dia a dia, mas, às vezes, querem usar o carro por uma hora, para ir fazer compras no supermercado, levar o cachorro ao petshop ou mesmo ter autonomia de visitar um parente que vive em alguma localidade remota.  Os carros compartilhados, claro, são também elétricos.

Para além da inegável emergência em reduzir as emissões de dióxido de carbono, o esforço chinês tem um objetivo também perseguido pelas potências ocidentais: diminuir sua dependência da importação de petróleo.

Coletivos da BYD em Shenzhen: emissão de carbono zero 

Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.