Qual é o segredo da China para ser capaz de erguer um hospital em 6 dias?
As notícias de que a China construirá um hospital com mil leitos em apenas seis dias, na cidade de Wuhan, epicentro da crise causada pelo coronavírus, causaram espanto e comoção em todo o mundo. Afinal, como é possível erguer uma obra deste porte tão rapidamente? Há até um link com transmissão das obras em tempo real.
O hospital, que deve ser inaugurado já no próximo final de semana, entre os dias 1 e 2 de fevereiro, é um símbolo de como aquele país contorna obstáculos técnicos e burocráticos, avançando velozmente em direção a seus objetivos. No caso, assegurar tratamento a todos os doentes de Wuhan, sem precisar trasladá-los para outras localidades, o que elevaria o risco de transportar o coronavírus a novas províncias.
- Coronavírus: mapa online mostra contágio pelo mundo; siga em tempo real
- Para combater coronavírus, Huawei leva 5G para hospitais chineses
- Para evitar contágio, paciente com coronavírus nos EUA é tratado por robô
Apesar de o direito à propriedade privada ter se tornado comum após as reformas dos anos 80, a propriedade dos terrenos onde se constroem casas, fábricas ou se instalam fazendas é sempre pública, do povo da China. Ou do governo, se preferir ler assim. Esta é a razão legal que permite ao poder público deslocar pessoas e ocupar espaços muito rapidamente, apenas pagando indenizações por "bem-feitorias" ou, basicamente, construções feitas em terras que, em última análise, são públicas. Por isso, é mais simples (e barato) abrir estradas, linhas de metrô, fazer grandes obras púbicas.
Além disso, apesar de ser uma nação oficialmente comunista, a China possui um sistema público de saúde de fazer corar até os economistas mais liberais do Ocidente. Não há, por exemplo, saúde pública universal, como o SUS, no Brasil, e mesmo os hospitais públicos, cobram seus pacientes quando atendidos. Se não puderem pagar, bem, não serão recebidos.
Para muitos especialistas, este sistema deve-se menos à maldade dos dirigentes chineses e mais à demografia. É impossível universalizar a saúde para uma população que representa 20% de toda humanidade. O que o poder público faz é subsidiar consultas e medicação. No mais, se você não tiver seguro-privado, terá que pagar a conta sozinho.
- China faz maior usina de energia limpa do mundo, mas que também vai poluir
- Como o megatelescópio da China poderá achar vida extraterrestre?
- Como a China está ditando as tendências para 2020?
Tal desafio, sem correlação no mundo, fez da China o paraíso das health techs. Pressionado por uma população que envelhece e requer cuidados, o governo chinês liberou o uso de novas tecnologias em saúde que, em muitos países, estão embargadas por discussões éticas, regulatórias ou simplesmente emperradas por lobbies de médicos.
Com exceção dos funcionários públicos, como professores e policiais (que podem usar hospitais do governo de graça) e empregados formais de empresas privadas (que possuem seguro saúde obrigatório, por lei), todos os demais cidadãos devem arcar com suas despesas médicas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 34,4% dos chineses estão nesta situação: sem seguro oferecido pelo empregador, seja público ou privado.
Empresas como Ping An Good Doctor, baseada em Shenzhen, e WeDoctor, baseada em Hangzhou, conquistaram centenas de milhões de clientes ao oferecer planos de saúde de baixo custo, justamente por otimizarem o atendimento aos pacientes via uso massivo de tecnologia.
No caso da WeDoctor, por exemplo, quiosques e pequenas clínicas com um só enfermeiro atendem pacientes que se sentem mal. Exames como medir a pressão, auscultar os pulmões, medir a temperatura e examinar a garganta são feitos pelo enfermeiro e transmitidos em tempo real para um médico remoto. A partir da análise, o médico determina a gravidade, pede exames ou já prescreve o tratamento.
Já o serviço Good Doctor, designa um médico da família para cada grupo de usuários em uma mesma casa e os consulta por videoconferência no celular, periodicamente. Quando necessário, exames são pedidos e consultas presenciais feitas.
- Em busca de domínio em telecomunicações, China lançará rival do GPS em 2020
- "Sol artificial" deve entrar em funcionamento em 2020 na China
- China substituirá computadores e softwares estrangeiros até 2022
Em ambos os casos, os exames laboratoriais são lidos por ferramentas de inteligência artificial, que interpretam os resultados e dão recomendações ao médico. Estima-se que esta análise automatizada reduza erros médicos em até 40% e eleve a produtividade dos doutores, sempre um gargalo para universalização da saúde, em até 25%.
A liberalidade da legislação de saúde chinesa permitiu, ainda, o surgimento de unicórnios como o iCarbonX, fundado pelo geneticista Wang Jun. A empresa, que já vale US$ 4 bilhões, propõe o desenvolvimento de medicações customizadas para o perfil genético de cada paciente, que tem seu DNA mapeado ao entrar para a plataforma. O serviço ainda mantém, em nuvem, todos os dados médicos de um paciente, permitindo que médicos de quaisquer época ou especialidade tenham acesso ao histórico de exames, tratamento e saúde do paciente.
No caso excepcional das vítimas do coronavírus, um acordo entre os hospitais chineses e o governo central de Pequim permitirá que todas as vítimas sejam atendidas, sem custos para o paciente. Para todos os demais casos do dia a dia, serviços baseados em inteligência artificial e teleconsulta têm sido a solução para universalizar o acesso médico a uma população que já supera 1,4 bilhão de pessoas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.