Crise gerada pela epidemia permitiu à China criar "economia do isolamento"
O sapo não pula por boniteza, mas por precisão. O ditado que ganhou fama ao ser registrado por Guimarães Rosa no conto "A hora e a vez de Augusto Matraga", é simbólica de como, na dificuldade, nos reinventamos.
A radical (e eficiente) resposta chinesa à epidemia de coronavírus em seu país impôs às empresas e trabalhadores a "precisão" de inventarem novas formas de fazer negócios dispensando contato físico e deslocamento de pessoas. Incrivelmente, deu certo.
Estudo publicado, no início deste mês, pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, avaliou 80 empresas chinesas que adotaram home office para todas as funções de trabalho, ao longo do mês de fevereiro. O resultado apontado foi a alta de 15,2% na produtividade dos colaboradores.
Plataformas de colaboração como DingTalk, do Alibaba, e Meeting, da Tencent, viram o número de usuários diários ativos saltar de 60 milhões de pessoas para 700 milhões. Chefes resistentes ao teletrabalho e desconfiados do que fariam seus subordinamos longe de seus olhos foram obrigados a testar o modelo de "isolamento" e, ao final, tiveram de dar o braço a torcer: trabalhar remoto funciona, sim, e muito bem.
Naturalmente, o ambiente de crise exige lideranças flexíveis e que saibam dar conta de gerenciar sua equipe a distância. O marketplace de comércio eletrônico Weimob, por exemplo, viu um de seus funcionários deletar os dados de 3 milhões de clientes, impedindo milhares de pedidos de serem entregues. O motivo? O gestor do banco de dados entrou em surto psicótico ao ficar isolado tempo demais em casa. A falta de atenção (e protocolos de proteção de dados) com um colaborador crítico terminou em gravíssimo prejuízo para a empresa.
A crise de isolamento forçou também o governo central da China a flexibilizar regras para uso de veículos autônomos. Empresas com tecnologia para explorar o delivery autônomo, enfim, receberam a sonhada autorização para colocar seus carros nas ruas. Jing Dong, Baidu, Alibaba e Meituan colocaram seus carrinhos para entregar remédios, comida e outros itens a venda online nas maiores cidades do país. O resultado: entregas contactless com mínima chance de transmitir vírus.
Até o varejo offline adaptou-se aos novos tempos, digitalizando seus promotores de vendas. Redes de supermercado e lojas de roupas colocaram seus vendedores para fazer live streaming de demonstração de produtos com a promessa de entregar as vendas na casa dos consumidores. Tudo da forma mais "contactless" possível.
Os resultados, do ponto de vista econômico, não são exatamente auspiciosos, já que a economia chinesa encolheu (com força) nos dois primeiros meses do ano. Mas as medidas permitiram às empresas gerar algum fluxo de caixa para sobreviverem à crise.
Espera-se ainda para março que o governo chinês anuncie, após mais alguns dias sem novas infecções de covid-19, que venceu a guerra contra a epidemia. Com o anúncio, um generoso pacote de medidas anticíclicas buscará recuperar o tempo perdido e reaquecer a economia.
As inovações tecnológicas realizadas no período da epidemia, no entanto, permanecerão, fortalecendo a posição das empresas que apostaram na adição de soluções tech e criativas no momento mais difícil da história recente da China.
Abaixo, vídeo da agência chinesa Xinhua registrando entregas de carro autônomo em período anterior à epidemia.
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