No pós-pandemia, chineses só querem lives, delivery e comida saudável
O doloroso confinamento, que os brasileiros experimentam agora, começou (e terminou) antes na China. Com a população de volta às ruas na maior parte do país asiático, já é possível perceber o que mudou (para sempre) nos hábitos das pessoas após a experiência de isolamento.
Há 30 dias sem registrar nenhuma morte por covid-19 na China e com grandes cidades, como Pequim, sem novo caso de contágio há um mês, os consumidores já podem ir a shoppings, restaurantes e até andar sem máscara – desde que ao ar livre. Um estudo feito pela iiMedia Research aponta que, na nova vida, 72% das pessoas pretendem consumir normalmente, aparentemente sem medo dos efeitos econômicos da crise. Apenas uma minoria será mais conservadora, com temor do futuro.
Segundo o estudo, há uma procura crescente por produtos saudáveis, como alimentos frescos, preferencialmente entregues via delivery. A experiência do isolamento "acomodou" os consumidores a receber tudo em casa e, ao que tudo indica, ninguém quer abrir mão deste conforto, mesmo que não seja mais arriscado ir ao supermercado.
Corrobora com a tese a alta sustentada nas vendas dos supermercados Hema e 7 Fresh, operados pelos grupos Alibaba e Jing Dong, respectivamente. As lojas são famosas pela excelência logística e por entregar produtos frescos nas casas dos consumidores que moram a até 3 km de uma unidade destes mercados em até 30 minutos.
A quarentena gerou especulação imobiliária em muitas cidades chinesas, mostra a análise. Imóveis localizados perto de regiões atendidas por mais serviços de delivery se valorizaram, em média, 10% em comparação com o período pré-pandemia.
A quarentena também deixou como herança o fenômeno das lives. No caso do Hema, lives em que webcelebridades ensinam a cozinhar foram responsáveis por gerar até um milhão de downloads do app do supermercado online em um único dia. No novo normal, os consumidores não querem renunciar a lives, e a rede anunciou que continuará a preparar receitas ao vivo com convidados famosos.
Isso também vale para live streaming de testes de produtos de e-commerce, como maquiagem, roupas e eletrônicos. Serviços como Taobao e Pingduoduo, líderes em vendas online, registram alta elevada no acesso a transmissões de demonstração ao vivo de produtos, mesmo após o fim da quarentena.
Mais marcas locais, menos estrangeiras
As recorrentes informações sobre crise econômica e desemprego exploradas ao longo da crise também deixaram marcas. Números do varejo nas quatro maiores cidades do país mostram que um terço dos consumidores (38,6%) passou a preferir marcas locais, como itens produzidos e vendidos pelas lojas do bairro.
No estudo, 50,6% revelaram mudar a sua preferência para artigos nacionais, em detrimento de produtos importados, o que pode revelar um componente nacionalista no comportamento do consumidor ao sair da quarentena.
Na China, os produtos que mais perderam espaço foram os de origem americana, país que acusou Pequim de ter "criado" o vírus, conforme declarou o presidente americano Donald Trump em algumas ocasiões, inclusive chamando o covid-19 de "vírus chinês". Produtos americanos perderam até 22% em vendas, em média, no pós-quarentena. Itens de origem japonesa e coreana perderam 6% em vendas no "novo normal", mostram os dados da iiMedia.
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