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China abre vantagem para vencer batalha de redes 5G

Felipe Zmoginski

03/04/2018 23h51


Chineses caminham em Beijing: redes 5G vão gerar US$ 1 tri em royalties para o vencedor

As redes 5G estão brilhando nas manchetes de tecnologia da imprensa internacional. São elas que permitirão aos carros autônomos saírem às ruas e tornarão factíveis aplicações de realidade virtual, teleconferências em movimento e até cirurgias remotas.

Com uma conexão 5G, será possível baixar 20 Gbps, algo como um filme de alta definição, em segundos. De acordo com a International Telecommunication Union (ITU),  um órgão das Nações Unidas, dominar as patentes de 5G permitirá gerar 800 mil empregos qualificados e faturar até US$ 1 trilhão em royalties na década de 2020/30. Quem abocanhará este filão?

Em janeiro deste ano, um comunicado vazado à imprensa americana informava que o governo Trump planejava construir, com recursos do orçamento, uma rede 5G exclusiva para funcionários do governo federal. O objetivo público seria manter os dados da administração federal protegidos. O oculto seria assegurar a liderança americana em setor tão estratégico. "Não somos a Venezuela", disse Greg Walden, deputado republicano, negando o plano de uma rede pública.

Na China, porém, praticamente toda telefonia é estatal, o que permite subsidiar planos de dados em áreas pobres e assegurar, por larga vantagem, a posição de país mais conectado do mundo. São 760 milhões de internautas.

A certeza de contar com compras públicas faz as duas maiores empresas de redes da China, Huawei e ZTE liderarem o desenvolvimento de patentes 5G, a frente dos consórcios europeus, coreanos e japoneses. Há duas semanas, uma empresa de Cingapura chamada Broadcom fez uma oferta hostil de incríveis US$ 117 bi para comprar a Qualcomm, companhia americana mais avançada no desenvolvimento de 5G. Trump proibiu a compra, alegando motivos de "segurança nacional".

A razão, na verdade, pode ser outra. Suspeita-se que o dinheiro para comprar a Qualcomm viria de cofres chineses, para quem a Broadcom repassaria tecnologias proprietárias da companhia americana. Quando o assunto é telecom, aliás, o liberalismo americano não vai até a página dois. A Huawei, por exemplo, é proibida de fornecer redes para o governo americano, mesmo após prometer abrir seu código-fonte para as autoridades ocidentais. De novo, há razões ocultas e públicas nestas decisões, mas o ponto central gira em torno de proteger a indústria de tecnologia nos Estados Unidos da competição chinesa.

Na última definição dos conhecidos planos quinquenais chineses, o premiê da China, Li Keqiang, pediu pessoalmente que se incluísse no programa um projeto para tornar a China líder em 5G até 2025. Após sair atrás de coreanos, japoneses e americanos na pesquisa de redes 3G, nos anos 2000, agora a China não quer repetir o erro.


Pesquisas que levarão ao 5G já receberam US$ 600 mi em investimentos só da Huawei

Há uma semana, o governo da China publicou um relatório, reproduzido no jornal China Daily, afirmando que 40% das patentes para 5G aceitas pela 3GPP, o órgão internacional que regula padrões de redes móveis, são chinesas, o que equivale a 8700 soluções técnicas, como as que permitem à rede móvel ser rápida mesmo sob nevoeiro, chuva ou driblar paredes de concreto nas grandes cidades.

Tal conquista se deve ao talento dos engenheiros chineses, mas também a pesados investimentos financeiros. Só a Huawei já investiu US$ 600 milhões em pesquisas de 5G desde 2009 e prevê investir mais US$ 800 milhões até 2018, afirmou um porta-voz da empresa ao The New York Times.

É possível (provável, na verdade) que a Huawei tenha exagerado nos números que apresentou ao The New York Times, mas é inegável que a China joga para ganhar a batalha do 5G e, ainda que o jogo esteja longe de definir um ganhador, neste momento, as empresas chinesas são as favoritas para vencer.

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Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.