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Uma só fábrica na China produzirá 20% dos robôs do mundo

Felipe Zmoginski

11/04/2019 04h00


Braço robótico da ABB em indústria de alimentos: inovação aberta com a China

Em 2020, uma única fábrica de robôs será capaz de produzir 100 mil robôs não humanoides por ano. Esse valor poderá representar entre 20% e 25% da demanda global por esse tipo de robô, usado principalmente em indústrias

Ou seja, só esta planta industrial, que a propósito será operada por robôs que fabricarão outros robôs, poderá representar entre 20% e 25% da demanda global.

Deus criou o céu e a terra; tudo mais, foi feito na China.

A afirmação é uma piada (e um exagero), mas capta o espírito de nossos tempos, em que o parque industrial chinês fabrica grande parte dos bens que consumimos em nosso dia a dia. Desde o sofisticado dispositivo em que você lê este texto até a simples cadeira de plástico em que você pode estar sentado.

A partir de 2020, uma única fábrica de robôs, a ser inaugurada em Kang Qiao, na periferia de Xangai, terá sozinha capacidade para produzir 100 mil robôs não humanoides por ano. Para efeito de comparação, toda a demanda mundial por robôs deste tipo flutua entre 400 mil e 500 mil unidades, a depender do humor dos mercados globais.

Ou seja, só esta planta industrial, que a propósito será operada por robôs que fabricarão outros robôs, poderá representar entre 20% e 25% da demanda global.

Robôs não humanoides, como o próprio nome diz, são máquinas em formatos de braços, letras T ou até de aranha (estes com oito membros) capazes de montar máquinas, pintar carros, soldar equipamentos, integrar peças de smartphones ou notebooks, por exemplo.

No mundo, robôs do tipo digitalizam as indústrias em ritmo acelerado, substituindo trabalhadores em funções repetitivas ou perigosas, como, por exemplo, refazer a soldagem de máquinas de moer cana, trabalho que já vitimou uma centena de trabalhadores só no Brasil, de acordo com dados do ministério do Trabalho, extinto este ano.

Os ganhos da adoção de robótica na produção incluem:

  • Maior produtividade (robôs trabalham à noite, em feriados, não tiram folga, não ficam cansados, etc.)
  • Menos consumo de energia
  • Não precisar de ar condicionado, aquecimento ou mesmo de iluminação permanente, como requer um trabalhador humano

O lado ruim

Obviamente, há um lado perverso neste processo tecnológico. Milhões de trabalhadores de média e baixa qualificação perderão seus postos de trabalho, ainda que algumas centenas de empregos qualificados, como operadores de robótica sejam gerados.

O espaço para adoção de robôs, na indústria, é de arrepiar os ludistas –nome dado aos seguidores de Ned Ludd, operário inglês que, no século 19, liderou um movimento de destruição de máquinas em protesto contra o desemprego causado pela revolução industrial.

Na Coreia, por exemplo, há 710 robôs por grupo de 10 mil trabalhadores, índice que cai para 322 na Alemanha, 97 na China e modestos 10 no Brasil.  É simbólico, ainda, que a maior fábrica de robôs não humanoides do mundo, embora fique na China, seja construída por europeus.

A planta de Kong Qiao servirá à multinacional suíço-sueca ABB, centenária empresa que afirma já ter investido US$ 2,4 bilhões no país asiático nas últimas duas décadas. Só para a nova fábrica, US$ 150 milhões serão aplicados.

O investimento merece atenção por demonstrar como companhias inovadoras de todo o mundo se aliam à força de produção e inovação da China para alavancar seus negócios.

O caso da ABB, em outras proporções, se equipara à relação que grandes nomes globais da tecnologia como Dell, Apple ou Microsoft têm com a China: uma simbiótica operação de inovação aberta, em que o país asiático opera como cliente, fornecedor e parceiro estratégico, com evidentes benefícios para as empresas ocidentais (custos mais competitivos) e para a Ásia (investimento direto, transferência de tecnologia e geração de empregos locais).

Os americanos da Hanson também escolheram a China para fabricar seus robôs

Não à toa, no universo da robótica, a americana Hanson, criadora da mundialmente famosa robô humanoide Sofia mudou sua sede para Hong Kong, onde os impostos são baixos, a mão de obra é qualificada e pode-se desfrutar da invejável logística de componentes eletrônicos, toda concentrada no sul da China.

Os exemplos de colaboração estrangeira na China não eclipsam, no entanto, o surgimento de importantes empresas locais de robótica. Isso é comprovado pela acelerada ascensão da UBTech, startup investida pela gigante chinesa Tencent e cujo valor de mercado já supera os US$ 5 bilhões.

No despótico futuro ficcional de uma guerra mundial operada por robôs, já sabemos: o maior exército do mundo será o chinês.

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Sobre o autor

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Foi fundador da Associação Brasileira de Online to Offline e secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia. Com MBA em marketing pela FGV, foi head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo.

Sobre o Blog

Copy from China é um blog que busca jogar luzes sobre o processo de expansão econômica e desenvolvimento de novas tecnologias na China, suas contradições e oportunidades. O blog é um esforço para ajudar a compreender a transformação tecnológica da China que ascendeu da condição de um país pobre, nos anos 80, para potência mundial.